A tatuagem como fórmula para transformar dor em acolhimento
Quando Bárbara Nhiemetz tinha entre 7 e 8 anos, a mãe dela foi diagnosticada com câncer de mama e acabou perdendo o seio. Ela acompanhou de perto todo o processo. Mais tarde, o filho pequeno foi diagnosticado com câncer. E Bárbara reviveu o sofrimento do câncer dentro de casa. Mas nada a fez desistir. Ao contrário, a fez transformar a dor em empatia.
Tatuadora profissional, Bárbara criou o projeto "Cores que acolhem", em que desenha a pele de ex-pacientes de graça, para que eles possam dar novo significado à vida depois de passarem por cirurgias e tratamentos mais invasivos de combate ao câncer.
"Com tudo que passei, vendo pessoas que amo em tratamento, acabei tendo um olhar diferenciado para o próximo. No caso da minha mãe, por exemplo, eu observava quando ela se olhava no espelho e ficava abalada sem poder usar uma roupa pela falta do seio. Isso mexeu muito com ela e comigo. Tanto que ela foi minha primeira cliente/paciente", contou Bárbara em entrevista especial nesta semana à TV Assembleia, levada ao ar pela primeira vez ontem (13) e que está sendo reprisada várias vezes.
O PROJETO
"Cores que acolhem" nasceu em 2015 e, de lá pra cá, já atendeu mais de 300 pacientes, a maioria mulheres, que procuram a tatuadora para reconstruir a aréola ou para esconder as cicatrizes deixadas pela doença. "Eu percebo que o trabalho ultrapassa a arte de desenhar. É uma forma de resgatar a autoestima desses pacientes. Muitos ficam constrangidos em se mostrar até para a tatuadora. E, no caso das mulheres que perderam as mamas, ainda mais, já que o seio é símbolo da feminilidade, da abundância, do acalento. Não é apenas uma recuperação estética, uma cobertura de cicatriz, mas acabo devolvendo um pouco do que o câncer tirou delas", refletiu.
Bárbara costuma cadastrar novos clientes/pacientes nesta época do ano, em razão do Outubro Rosa, mês de prevenção e combate ao câncer de mama e de colo de útero, mas ela acaba abrindo a agenda em outros meses do ano. Separa sempre a segunda-feira para os atendimentos voluntários, que banca com o dinheiro que recebe das clientes que pagam pelo trabalho. "Desenhos de fênix estão entre os mais pedidos, pelo simbolismo de renascimento do pássaro e também flores, pelo fato de desabrocharem, o que também significa renascimento, liberdade", destacou, durante a entrevista.
Por fim, ela também fez questão de ressaltar: " Trabalho com um protocolo especializado para cada caso. Faço sempre uma avaliação prévia, já que a tatuagem só pode ser feita após o fim do tratamento e a liberação do médico. Essa sempre foi, inclusive, uma preocupação minha ao longo desses sete anos. O que importa é a segurança dos clientes. Sejam eles homens ou mulheres". (Foto: Reprodução Facebook)