Saiu o povo, entrou a máquina
Paulo Roberto Hapner
Assistimos nesses dias uma polêmica continuada a respeito da confiabilidade na urna eletrônica. Acredito que a população em geral e aqueles cidadãos que mantiveram contato com o escrutínio manual, época vencida, têm condições de opinar sobre o sistema antigo e o atual. Suas vantagens e desvantagens. Gostaria apenas de deixar minha opinião registrada para a posteridade.
A eleição sempre foi feita pelo povo, com o povo e para o povo. A Junta Eleitoral se transformava em Junta Apuradora. Era o povo quem contava os votos. Abria as cédulas e verificava sua validade e consistência. Atualmente, quem faz isso é uma máquina. Portanto, retiraram o povo da fase final do processo eleitoral, que é a apuração e totalização dos votos. O povo foi substituído por uma máquina, em nome da rapidez do resultado (que poderia ser conseguida no modo antigo com uma leitora ótica) e por uma alegação obsoleta de evitar a fraude conhecida por mapismo. Isto, porém, não era mais possível diante da efetiva fiscalização que se fazia durante o escrutínio. A imprensa sabe disso. Os políticos de antigamente também.
A pergunta que se deve fazer é: por que os demais países não utilizam a urna eletrônica e alguns deixaram de utilizá-la? Será por que ela permite fraude ou por que é antidemocrática? Se a apuração continuasse sendo feita por aqueles eleitores convocados, como antigamente, criaria algum entrave e dúvidas como agora? Será que a fiscalização e a vistoria do sistema devem ser feitas pelos "experts" em informática, os únicos que podem conhecer o funcionamento da urna? Por que qualquer um do povo não tem condições de saber se o seu voto foi contabilizado ou não?
Parece que a urna eletrônica continuará sendo idolatrada. Contudo, não convence o cidadão comum do resultado que ela fornece. Somente os iluminados é que têm acesso ao sistema.
Paulo Roberto Hapner é desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do Paraná