A extrema direita
J. J. Duran
O mantra segundo o qual a extrema direita cresceu graças aos erros da esquerda lulista é uma relação linear que não leva em conta nem analisa a gênese demonstrativa do crescimento dessa corrente ideológica no continente.
Na verdade, a extrema direita bolsonarista pode muito bem ser incluída como parte importante do neoliberalismo que se espalha pelo Cone Sul.
Há que se reconhecer, antes de tudo, que boa parte de sua militância é formada por respeitáveis pensadores que têm a ideia dos políticos tradicionais como "segmento paralitário da política".
Mas é inegável, também, que dela também faz parte o famigerado Centrão, agrupamento político formado pelas agremiações mais negociadoras da ajuda eleitoral do governo de turno.
Ideologicamente, a parcela de ultradireita do bolsonarismo se remete ao conteúdo dos manifestos revolucionários do regime militar iniciado na década de 1960. Poucas variantes separam o discurso do atual presidente das linhas mestres traçadas por Golbery do Couto e Silva, grande ideólogo do governo militar.
O discurso efusivo, por vezes agressivo, é parte de um script usado por todos que aderiram aos postulados revolucionários para justificar sua posição.
O bolsonarismo, na verdade, abriga em sua conformação humores sócio-políticos de diversas correntes ideológicas e procura, de forma persistente, desacreditar todo aparado político tradicional, coisa perfeitamente compreensível para quem acompanha a política do Brasil e do mundo.
Não por acaso reitera diariamente o discurso que coloca em dúvida a credibilidade do atual sistema eleitoral.
Mas é bom que se tenha claro que esse tipo de discurso deve ser substituído pelo diálogo para possibilitar a elaboração de um programa nacional que reverta a caótica situação enfrentada por uma grande massa de brasileiros quase invisíveis.
Por fim, devo observar que ao colunista não é dado o direito de julgar, apenas investigar, denunciar (se for este o caso), enfim, descortinar a realidade com toda a honestidade intelectual possível.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná