Velhas narrativas e nada de novo
Renato Sant’Ana
É a velha política. Para engrupir o eleitor gaúcho, o PT vem com Olívio Dutra como candidato ao Senado e a malandragem eleitoreira de anunciar um mandato coletivo. O que é isso? Aonde querem chegar?
A "narrativa" é que o mandato de senador seria exercido pelo titular (Olívio) e seus dois suplentes, quer dizer, de modo coletivo. A jogada tem, de saída, dois efeitos. Ao oferecer "trabalho" remunerado para os suplentes - ou acham que, nessa proposta, só o titular vai receber? -, remunera o apoio dos puxadinhos que indicarão os suplentes. E engabela o eleitor, que vota em quem quer e elege quem não quer.
Olívio é personagem da mitologia do PT gaúcho, bonachão, bonzinho, não fala nomes feios, nunca foi acusado pelo Ministério Público por improbidade, etc. Colam na pessoa dele qualidades que toda e qualquer pessoa deveria ter por imperativo ético. Só isso.
Como político, é um desastre! Foi o pior governador que o Rio Grande do Sul teve nos últimos 40 anos - se não houver sido o pior da história.
Seu desprezo à democracia mostrou-se na cerimônia de posse, quando uma bandeira de Cuba foi desfraldada na sacada do Palácio Piratini.
Ao assumir, parecia uma nuvem de gafanhotos, arrasando tudo que o governador anterior, Antônio Britto, havia plantado. Britto começara a modernizar o Estado visando o crescimento econômico, sem o que, aliás, não há geração de emprego nem melhoria da renda familiar. Aí veio Olívio rasgando contratos encaminhados por Britto, extinguindo projetos, tudo para transformar o rincão gaúcho em território socialista.
O fato mais lembrado daquela devastação foi ter ele expulsado do RS a Ford, que se instalou na Bahia para agradecimentos debochados de Antonio Carlos Magalhães. Felizmente, ele não conseguiu expulsar a GM, que ficou no Rio Grande do Sul para ser uma locomotiva da economia gaúcha.
Para se ter ideia, hoje, na região, há cerca de 400 empresas
(micro e pequenas) como sistemistas da GM gerando empregos e recolhendo impostos, impulsionando a economia. Por que seria diferente com a Ford? Duas grandes locomotivas a puxar a economia gaúcha. Aí, elegeu-se Olívio, que ganhou o apelido de Exterminador do Futuro...
E não venham com argumentos de boteco, de que a Ford saiu da Bahia. Saiu. Por coincidência, só quando o PT chegou ao governo baiano. Porém, durante duas décadas, mudou positiva e radicalmente a economia local. Se houvesse ficado no RS, coração do Cone Sul (vale a cogitação!), a Ford no mínimo teria um bom motivo (sua localização favorável) para permanecer no Brasil em vez de ir fabricar picapes na Argentina.
Também fez estrago como prefeito da capital rio-grandense - destaque para o seu ensaio bolchevique ao encampar as empresas do transporte coletivo, o que viria depois a render milhões para os transportadores. E, o que é pior, partidarizou as escolas municipais em prejuízo da formação escolar, coisa que também fez como governador: a juventude gaúcha é, hoje, predominantemente de analfabetos funcionais.
Agora, sem um nome de peso para o Senado, o PT chamou Olívio, que, aos 81, estava no ostracismo. Mas pode puxar voto. E o mandato coletivo é moeda de troca com os partidos aliados: emprego no gabinete! Sem dizer que, para frisson dos suplentes, Olívio, pela idade, pode querer renunciar antes do fim do mandato (de oito anos). Quem não ambiciona uma boquinha dessas? E ainda tem uma boa "narrativa" para iludir o eleitor.
É a velha política dos sedizentes progressistas, que escondem suas reais intenções falando apenas o que o eleitor gosta de ouvir: adulam o povo esperando que ele reaja como as aves na "fábula das galinhas contentes", que agradecem com louvor a quem as protege e as engorda para o abate.
A sorte está lançada. Em breve saberemos quantos eleitores gaúchos ainda se deixam iludir pelo o discurso populista dessa gente. (Foto: Guilherme Santos/PT)
Renato Sant’Ana é advogado e psicólogo - sentinela.rs@outlook.com