O canto gregoriano mudo
J. J. Duran
O eleitor brasileiro, já tantas vezes enganado, deve compreender que eleger um candidato por sua popularidade ou retórica não é suficiente para transformar um País, um Estado ou um Município.
É necessário votar em programas factíveis e que atendam às necessidades peremptórias da sociedade, cada vez mais propensa a fazer do voto em branco um sinal de protesto contra o sistema vigente e a maioria de seus atores políticos, desastrados figurantes de uma década infame.
Deve-se votar em candidatos com reconhecida vocação para serem servidores do povo, gente com fraternal e humilde sentimento republicano para fazer do mandato um gesto retributivo dos votos recebidos.
Há de se abandonar de vez o discurso dos falsos profetas, pregadores do ressentimento e da divisão que mantém a sociedade paralisada, verdadeira fórmula do fracasso. Não se deve votar naqueles que já tiveram a oportunidade de figurar na vida pública e jamais contribuíram para a solução dos problemas comuns a toda sociedade.
O cenário político nacional está atomizado e fragmentado em cacos. Com o voto, desde que fruto do raciocínio e não da emoção, podemos recompor o cálice democrático. A triste realidade deste tempo marcado pela desilusão e pela orfandade do eleitor é uma espécie de antessala do que virá nas eleições de outro próximo.
Os acontecimentos e as nominatas de possíveis candidatos nos diferentes níveis levam à necessidade de refletir com cautela para tornar possível a recomposição do quadro político brasileiro. Temos a possibilidade de iniciar uma lenta, porém segura, caminhada ao encontro do tão prometido desenvolvimento.
Nesse rumo caminha não só o Brasil, mas quase todos os vizinhos de uma indo-América castigada impiedosamente pelo liberalismo, pelo populismo e pela corrupção. E a mudança desse cenário passa, obrigatoriamente, pela escolha de candidatos com visão honesta e sensibilidade fraterna para identificar a dura realidade que enfrenta a maior parte da população.
O pragmatismo dos eleitos será pedra basal para refazer a credibilidade perdida pelo poder, que foi usurpado e submerso em nojentas negociatas que desmoralizaram Executivo, Legislativo e Judiciário em níveis idênticos.
Inteligência e beleza espiritual fazem do curto mandato o legítimo campo de renovação profunda e sensata de um modo de governar desastroso. Que o eleitor saiba votar, pois só assim será possível dar fim ao ciclo nefasto do canto gregoriano mudo existente no sodalício político.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras