Campanha prega mais diálogo e menos intolerância no trânsito
Idealizada pelo Ministério Público do Paraná, a campanha "Conte até 10" foi um dos temas da reunião pública promovida pela Comissão de Segurança Pública e Trânsito da Câmara de Cascavel na manhã desta quarta-feira (3). Formada pelos vereadores Policial Madril, Pedro Sampaio e Sadi Kisiel, a comissão reuniu entidades e autoridades para debater a prevenção aos crimes cometidos por impulso.
"Hoje há muita intolerância. Parece que, depois da Covid, por qualquer coisa as pessoas estão indo ao extremo. E a gente sabe que tudo tem que começar pelo diálogo", disse o presidente da comissão, Policial Madril, ao abrir a reunião resumindo a preocupação da sociedade com o aumento dos crimes violentos.
Compuseram a mesa coordenadora, junto com os membros da comissão, os promotores Guilherme Carneiro de Rezende e Alex Fadel, que apresentaram a ideia da campanha ao Legislativo, além da psicóloga Karen Romeo, do juiz Phellipe Müller, do delegado da Polícia Civil Fernando Zamoner, do tenente coronel PM Jorge Fritola e demais lideranças.
A sociedade civil foi representada pela Acic, com o presidente Genésio Pegoraro e o vice Siro Canabarro, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), com a representante da subseccional advogada Alyne Sabadin Gaspar, o diretor da Unipar Gelson Uecker, o presidente do Conseg Mauri Barbosa e Carlos Tanuri Mendes, representando a Maçonaria.
Outro tema da reunião, que tomou a maior parte do tempo e das falas, foi a necessidade de se desenvolver ações e políticas públicas de proteção, apoio e assistência às vítimas de crimes graves e seus familiares. "A vítima de um homicídio, umas das 60 mil por ano no Brasil, vira apenas um número, uma estatística. Para o sistema de justiça, ele vira um amontoado de papel, um laudo necroscópico, um atestado de óbito, um conjunto de informações que podem ajudar na condenação de seu algoz. Qual era o seu nome e quais eram seus planos? Quem são seus familiares? Numa sociedade minimamente civilizada, nós temos sim que nos preocuparmos com o réu. Mas não podemos esquecer que do outro lado está a defesa da vítima, e ela não pode ser esquecida, assim como seus familiares", afirmou o promotor Guilherme Rezende.
Por sua vez, a psicóloga Karen Romeo apresentou dados sobre os homicídios. Só no ano de 2015, conforme um mapa mostrado por ela, o Brasil teve 59 mil homicídios, o que equivalia à soma dos números de EUA, Canadá, toda a Europa, Norte da África, Rússia, China e Austrália. Em 2019, a taxa de homicídios em nosso país (21,4 a cada 100 mil habitantes) foi três vezes maior que a média mundial, que é de 6,9 por 100 mil habitantes. O município de Cascavel teve, no mesmo ano, mais que o dobro da média mundial, com 14,9 homicídios para cada 100 mil habitantes. "O homicídio tem consequências catastróficas e desestruturadoras na vida de uma família", contou a profissional, que atua no Ministério Público do Paraná e relatou os impactos na saúde dos familiares das vítimas.
MOMENTO DELICADO
Em sua fala para apresentar a proposta da campanha "Conte até 10", o promotor Alex Fadel citou a onda de crimes de homicídio que tomou a cidade nos últimos meses. "Nenhuma daquelas pessoas saiu de casa pensando: ‘hoje vou cometer um homicídio’. Por uma gota d’água, a pessoa explodiu. Uma ombrada, um xingamento no trânsito, uma furada de fila. Como foram todos gravados em vídeo e as pessoas tiveram acesso, a gente percebe ao assistir como é fácil matar alguém. Esse ‘Conte até 10’ era uma campanha antiga, de 2012, que teve uma quebra de continuidade. Mas foi a Dra. Mariana, da Polícia Civil, que me chamou a atenção e disse que estava na hora de retomar a campanha, porque as pessoas estão se matando no drive thru da lanchonete", relatou ele. (Foto: Flávio Ulsenheimer/CMC)