O portal da ditadura
J. J. Duran
Voltando ao tempo da minha juventude, vejo quão nefasto é para a democracia outorgar aos detentores do poder a oportunidade de legitimar sua permanência como governantes em lapsos de tempo que se caracterizam pela entronização definitiva de uma ideologia política, com seus ideários e prerrogativas.
Encontramos fartos exemplos disso na história indo-americana. Peron, Stroessner, Chaves e Castro são provas da crise institucional que vivem as sociedades quando outorgam poderes quase ilimitados aos governantes, que manipulam o parlamento e eclipsam a democracia.
Já escreveu um velho jornalista platino, Carlos Banuelos, que "se todas as presidências durassem só uma noite, o mundo seria extraordinário".
Os povos indo-americanos têm por costume considerar autoritarismo somente quando se interrompe o processo democrático pela ação das Forças Armadas. Nada mais enganoso. Existe, de fato, uma interrupção ainda mais grave quando os governantes eleitos democraticamente abrem, pela via reformista, amplo portal para perpetuar-se no poder.
Esses governantes assentam sob a máscara da democracia a luva do governo cívico-militar, no qual só o Executivo dita as regras, faz e impõe. Com isso, inviabilizam o regular funcionamento dos demais poderes, tornam quase nula a taxa de legitimidade democrática que pregam e, com a cumplicidade do parlamento, terminam por quebrar via repetitiva hegemonia governante a resistência cívica e a condenar o povo à submissão política.
Usar a reeleição para outorgar tamanha franquia a um partido político, que trai seu ideário com inequívocas ações eivadas de prepotência e arbítrio é mero comportamento coercitivo. Os perigos da reeleição residem não no que convoca, mas no que silencia.
Vários países vivem a senda de um processo político artificial oriundo de concepção absurda e que deslegitima o vocábulo "adversário" e do quebranto de todo sinal de convivência harmônica.
A história expõe um nefasto histórico de retrocesso da democracia, que abre as portas para o arbítrio, o autoritarismo e a perseguição aos dissidentes do "comandante supremo".
Tomara os fantasmas de meu passado político me levem ao equívoco. (Imagem: Reprodução Youtube)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná