Produtores de suínos do Paraná seguem trabalhando no vermelho
Um dos carros-chefes da atividade agropecuária paranaense, tanto no mercado interno quanto no mercado externo, a suinocultura continua não conseguindo fechar as contas no azul, o que vem já de há um bom tempo. A crise global do pós-pandemia, a Guerra na Ucrânia e fatores internos da economia nacional não têm dado trégua e mantido a defasagem nos valores praticados.
Esse cenário está descrito em números levantamento de custos de produção da suinocultura, elaborado pelo Sistema Faep/Senar-PR e cujas planilhas podem ser acessadas clicando aqui. Para ver os gráficos ilustrativos, clique aqui.
Para chegar aos números desta edição do levantamento de custos de produção da suinocultura, reuniões online foram realizadas com produtores rurais, revendas de insumos, representantes da agroindústria, instituições financeiras e demais agentes do setor, para apurar os custos de uma propriedade modal, ou seja, o perfil de negócio que mais se repete na região.
A pesquisa abrange as principais regiões produtoras de suínos no Paraná: Campos Gerais, Sudoeste e Oeste. Nesta edição, os dados se referem apenas a sistemas integrados, nos quais os produtores são responsáveis por fornecer mão de obra, infraestrutura e terra, com os insumos bancados pela indústria (animais, ração, medicamentos e assistência técnica).
TEMPESTADE PERFEITA
No contexto geral da atividade, a presidente da Comissão Técnica de Suinocultura do Sistema Faep/Senar-PR, Deborah de Geus, enfatiza que, inicialmente, é preciso considerar que a produção de suínos vive uma crise de grande proporção desde o começo de 2021. "O que está pegando é o custo muito alto, sem perspectiva de queda nas cotações do milho e da soja, e a crescente oferta de suínos no mercado interno. Com essa questão da Guerra da Ucrânia, a exportação para a Rússia parou, e com a questão da Covid-19, os portos da China fecharam. Temos uma perspectiva de melhora, com a reabertura dos portos chineses, apesar da alta no custo de contêineres", lembra ela. "A verdade é que vivemos uma ‘tempestade perfeita’. Tudo que tinha que dar de pior, aconteceu", reforça.
Os aspectos globais e nacionais apontados por ela respingam no dia a dia do produtor. Segundo o levantamento, donos de Unidade Produtora de Leitões (UPL integrado), por exemplo, tiveram um aumento significativo nos custos de produção em relação ao levantamento anterior, de novembro de 2021. O custo total por cabeça alcançou R$ 66,04, enquanto a receita do produtor foi de R$ 46,87 - prejuízo de R$ 19,17 por leitão.
O cenário é parecido também na modalidade Unidade Produtora de Leitões Desmamados (UPD integrado), sistema no qual o item "despesas financeiras" foi o maior responsável pelo aumento nos custos de produção, com acréscimo superior a 40%. "Os preços dos combustíveis têm registrado forte elevação, assim como energia elétrica. Esta última em função da redução dos subsídios para a classe rural e a aplicação da bandeira vermelha, por conta da estiagem ocorrida no último semestre. Ainda que o aumento na receita do produtor tenha sido de 12,93% pelo leitão na região Oeste, as margens permanecem negativas", acrescenta a técnica Nicolle Wilsek.
Na Unidade Creche (UC), a operação no vermelho também é uma realidade. Houve aumento de 81,73% no custo fixo e a depreciação não permitiu ao produtor obter rentabilidade positiva, somado à queda de 7,14% no preço pago ao produtor na comparação entre os levantamentos do fim de 2021. "A receita por animal foi de R$ 6,50, o custo variável foi de R$ 6,54. O custo o operacional alcançou R$ 10,43 e o custo total foi de R$ 12,94 para o produtor integrado, tornando a atividade insustentável em curto prazo", alerta Nicolle. (Foto: Sistema Faep)