Vexames do pós-Copa e de muito antes
Alceu A. Sperança
O ridículo prende-solta de Lula, que desmoraliza até o único Poder no qual ainda resta alguma confiança - o Judiciário -, é só mais um de muitos vexames vividos por autoridades no Brasil.
Em 15 de novembro de 1889, o monarquista Deodoro da Fonseca gritou "viva o imperador", mas foi sufocado pela claque de Benjamin Constant entoando "viva a República". O marechal acabou gritando junto e foi o primeiro presidente da República.
O general João Figueiredo prometeu "prender e arrebentar" quem fosse contrário à democracia. Não precisou: eles se explodiram sozinhos. No atentado do Riocentro, em 30 de abril de 1981, uma bomba estourou no colo de um terrorista. Um militar.
No Paraná de 1859 ninguém queria ser policial. O espalhafatoso governador José Francisco Cardoso, o Cardosão, mandou recolher vagabundos e desocupados, mas não lhes deu o castigo costumeiro pela vadiagem, que seria a cadeia: obrigou-os a trabalhar como... policiais!
Cascavel também viveu um vexame, digamos, judiciário, lembrado pela cartorária Aracy Tanaka Biazetto. No primeiro aniversário da Comarca, em 1954, a solenidade para comemorar a data se realizou no Tuiuti Esporte Clube.
Ela providenciou um toca-discos para rodar um disquinho com o Hino Nacional Brasileiro. A energia elétrica na época não era lá essas coisas e o player enguiçou logo nos primeiros acordes do Hino. As autoridades começaram a cantar a capela, mas alguns bateram cabeça confundindo a letra. Preferiram parar o hino e seguir direto aos discursos.
Finda a participação do Brasil na Copa do Mundo antes do tempo, é possível que todos já tenham conseguido decorar finalmente o Hino Nacional e ninguém mais tenha que passar por tal vexame outra vez.
Alceu A. Sperança é escritor e jornalista - alceusperanca@ig.com.br