O silêncio dos eleitores enganados
J. J. Duran
Não existirá democracia verdadeira enquanto os governos não emanarem da liberdade do povo para eleger seus candidatos. Todo governo surgido ao arrepio desse postulado básico padecerá de ilegalidade. E pretender fazer de uma eleição uma festa de amigos e apaniguados, é amesquinhar a mística inviolável da igualdade de todos perante a lei.
A prática reiterada de confundir a coisa pública com o acervo particular nos levou a conhecer pela via judicial as penumbras morais que governaram e legislaram no Brasil nos últimos 50 anos.
A eleição de muitos deputados e senadores foi fruto de reuniões paroquiais nas quais o eleitor sempre esteve ausente. Sempre se criou uma corrente de contemplados e se arranjou o círculo de apoio e as retribuições em meio a uma atmosfera de favores mútuos para proclamar os escolhidos sem o consenso ou a vontade de filiados e simpatizantes.
Os premiados, raposas com velhas contas a pagar, não se deram conta que, ao degenerar os padrões democráticos da eleição, as cúpulas partidárias matavam a democracia e os partidos.
E essa situação aviltante parece ressurgir agora nas sombras de um cenário político onde não deveriam caber candidaturas impostas ou de paraquedistas buscadores de siglas que lhes garantam financiamentos de campanha mais generosos ou condições de se eleger com votação menor.
Diante desse cenário, onde ficam a vontade e a soberania dos filiados, aqueles que levaram as bandeiras político-partidárias no obscurantismo de um tempo no qual muitos eleitos traíram a boa-fé do eleitor? Onde estão as manifestações ideológicas dos eleitos na sordidez do recinto fechado em respeito às bandeiras partidárias?
Não pode mais ser enganado o simples homem da rua, filiado ou não, que é o soberano eleitor. Que os atuais detentores de mandato com biografia limpa logrem êxito na busca da reeleição e sejam bem sucedidos. Mas que os cheios de máculas sejam rechaçados nas urnas e submetidos ao crivo da Justiça.
Reeleger aqueles nomes impostos ao eleitorado pela contubérnia interessada em blindar os que estão na lista de espera do juiz Sérgio Moro será uma imperdoável traição aos muitos que ficaram desempregados em consequência das negociatas do passado recente.
Há silêncios que falam, que fazem ruído, que provocam reações. E há personagens que se voltam contra a força desagregadora dos partidos políticos. Ao eleitor cabe passar os candidatos em uma peneira moral e depositar o voto naqueles munidos apenas de boas intenções.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras