Insatisfação democrática
J. J. Duran
O que temos como democracia, na verdade não é. O que temos como democracia é, na verdade, um "toma lá, dá cá" entre um poder público anêmico de povo e o poder real.
Esse é, em grossas pinceladas, o quadro pré-eleitoral pelo qual transitamos nesta véspera da tomada de grandes decisões nas urnas no pleito de outubro vindouro.
No Brasil não existe, desde o início da era bolsonarista no poder, uma oposição que tenha atuado em termos reais, com atos fortes e determinantes para definir os rumos do governo.
E motivos para tanto não faltaram, a começar pelo fato de os discursos com ameaças de volta a um passado doloroso não serem uma forma política de agir, mas sim um atentado ao regime democrático.
Está longe do fazer político ideal atacar as instituições que formam o esqueleto republicano e envenenar a opinião pública com confrontos desnecessários e improdutivos.
Não é fazer política destilar o ódio nas redes sociais com o uso de um verdadeiro exército de operadores domesticados e muito bem remunerados para defender um suposto novo tempo, altamente conflituoso.
Faço parte de uma geração cujas lutas culminaram com muitos homens e mulheres mortos na defesa da liberdade temporalmente escurecida, a mesma liberdade que hoje é desfrutada pelos mercadores do ódio.
Minha insatisfação e meu grito vêm do desprezo à democracia por parte de todos quantos se elegem democraticamente, mas desprezam esta origem.
A verdadeira História está repleta de exemplos mostrando que essa forma de fazer política muitas vezes se converteu em tragédia.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná