Um horizonte de incertezas
J. J. Duran
Reconhecido como um dos maiores especialistas sobre a América Latina, o cientista e diplomata Alain Rouquié escreveu que o que aconteceu no Brasil, no caso específico da prisão de Lula pela Operação Lava Jato, foi uma "cruzada contra o PT ao constatar, a elite do fracasso, que o seu triunfo eleitoral era inevitável". Por isso mesmo, segundo ele, "a situação atual do Brasil é um exemplo das incertezas da democracia".
Depreende-se disso que, historicamente, o sistema político-eleitoral não admite partidos majoritários de esquerda ou de centro-esquerda, pensamento que favorece a corrupção política e fragiliza a democracia, como se viu com a chegada ao poder de Jair Bolsonaro, que a despeito de ter sido escolhido de forma límpida e transparente, gerou um visível retrocesso democrático e social.
Isso tudo talvez explique o fato deste momento pré-eleitoral, com providências tardias e bandeiras fictícias, estar mostrando uma inclinação favorável a Luiz Inácio Lula da Silva no pleito de outubro próximo, mesmo com todas suas culpas e incertezas.
Já fragilizada, a estabilidade democrática poderá ser substituída pelo patrimonialismo laboral escravocrata, feito sob medida para os investidores vindos de fora e que vivem unicamente da especulação.
Não podemos entrar no sutil e habilidoso jogo da mídia ativista. Devemos lembrar que as Forças Armadas são o único segmento capaz de manter a coesão nacional, e que não são representadas pelos militares que estão provisoriamente no poder. Acima deles existe um Estadio Maior que, longe de querer dar sustentação a tentativas de quebra do sistema democrático, está empenhado apenas em obstaculizar eventuais desmandos que possam desviar o País dos trilhos do desenvolvimento.
Ultimamente o que se tem visto é a redução da democracia ao domínio de um setor minoritário das três Forças Armadas, de uma fatia importante da elite do fracasso e de um exército civil que idolatra seu líder e evoca um passado já distante.
Na hora de votar, é necessário o eleitor ter em mente a insensatez das ajudas que são migalhas dadas ao povo e, acima de tudo, que o futuro da Nação depende diretamente da sua escolha. (Foto: Reprodução)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná