Terceira via?
J. J. Duran
O centro político clientelista, fisiológico, patrimonialista, não pode ser definido como pragmático, mas como oportunista, que só busca se aproximar dos governos mediante a garantia de manutenção de polpudas verbas.
Já a tão proclamada terceira via é pivô para coalizões parlamentares em que a ideologia ou o seguimento político do ideário das difusas esquerdas ou beligerantes direitas armamentistas carece de solidez.
Essas coalizões feitas no sigilo dos recintos parlamentares têm como propósito fundamental controlar e impedir que propostas do Executivo destinadas a realizar reformas estruturais do esqueleto do Estado sejam postas em votação.
Votar para entregar a galinha dos ovos de ouro ao poder financeiro do mercado apátrido e sem ideologias significa uma ameaça ao poder de barganha das mamatas que enriquecem bolsos de nobres biografias políticas e mata de fome a fatia menos privilegiada da população.
Os velhos partidos políticos, bem como os novos surgidos da fusão dos primeiros e sob a direção de velhos caciques, nada representam no cenário pré-eleitoral.
Hoje o famigerado Centrão se debate na busca de uma figura aglutinadora e que seja aceita pelo poder do círculo financeiro vermelho e da elite do atraso. São as mesmas vozes políticas que, com seus votos, terminaram por conduzir ao poder uma alternativa radicalizante.
O bolsonarismo de raiz nada tem a ver com o grupo palaciano que rodeia com habilidade o Mito.
Esse agrupamento tecnicamente produzido pelo manejo consensual submisso da chamada maioria parlamentar já não negocia decisões importantes com o fundador do bolsonarismo e sim com peças não visíveis do seu staff.
A polarização bolsonarismo x lulismo é, até agora, uma muito bem sucedida manipulação dos meios de comunicação atrelados desde sempre às polpudas verbas públicas em publicidade, em uma artimanha que alija o eleitor da realidade.
A terceira via nos moldes da sugerida por Anthony Giddens como solução política mais adequada ao cenário contemporâneo já teve seu expoente no poder por ocasião dos dois governos de Fernando Henrique Cardoso.
O que caracteriza hoje o tempo político pré-eleitoral é um fundamentalismo que opõe militarizados e militantes, com forte atuação de evangelizadores e um populismo que poderá vencer as eleições, porém terá que lidar com a sombra tenebrosa da derrotada terceira via.
O colapso político e social é parte do ciclo periódico da República. (Foto: Reprodução)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná