Brucelose e tuberculose, os novos desafios da pecuária paranaense
O Paraná acaba de completar um ano do reconhecimento como área livre de febre aftosa sem vacinação, conquistado em maio de 2021, mas isso não significa que a sanidade animal esteja garantida. Além de manter os cuidados em relação à afsota, os pecuaristas do Estado precisam atentar para outras doenças igualmente graves: brucelose e tuberculose, ambas causadas por bactérias e cujo controle exige a adoção de boas práticas. Somente em prejuízos financeiros diretos, com o abate de animais infectados, segundo a Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná), estima-se mais de R$ 8 milhões por ano no Estado. "Temos muito o que comemorar em relação aos enormes avanços que conquistamos em sanidade no Paraná. No entanto, mais importante do que conseguir o reconhecimento, é mantermos esse status e isso se faz com mais avanços sanitários. A brucelose e a tuberculose bovinas são desafios que nós temos enfrentado e vamos seguir na trajetória para edificarmos uma sanidade na qual possamos chegar à erradicação dessas duas doenças", afirma o presidente da entidade, Ágide Meneguette.
Atualmente, o responsável pelo Programa Nacional de Controle a Brucelose e Tuberculose da superintendência do Paraná do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Diego Leonardo Rodrigues, desenvolve uma pesquisa na Nova Zelândia, analisando justamente os dados de ocorrência das duas doenças no Estado. Para ele, é fundamental continuar em um caminho de avanços como o que ocorreu com a aftosa. "Temos que aproveitar essa estrutura, posta, montada, qualificada, para enfrentar outras doenças, como a brucelose e a tuberculose bovinas", sinaliza o especialista.
Em um apanhado geral do desenvolvimento do combate a esses males, Rodrigues considera que um fator-chave para os avanços registrados nos últimos anos foi o lançamento do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal, instituído em 2001 e que criou a noção da importância de combater as doenças. "Para uma parte do setor, menos qualificado, é fundamental saber das formas de controle, das boas práticas a serem seguidas e trazer efetivamente o assunto para a pauta. Isso envolve, em um primeiro em nível, ações governamentais e, na sequência, o setor privado", aponta.
Um segundo passo, segundo Rodrigues, foi a ampliação na cobertura vacinal contra a brucelose (a tuberculose não conta com vacina). A imunização é obrigatória para fêmeas dos três aos oito meses de idade. Um dos desafios nesse sentido é o fato de que nascem bezerras todos os dias no Estado, o que dificulta uma campanha de vacinação com data de início e término, como ocorria com a febre aftosa na época em que se vacinava o gado paranaense. No início do programa a cobertura vacinal não chegava a 3%, índice que saltou para quase 75% no período pré-pandemia do coronavírus.
Um terceiro aspecto importante envolve o avanço na vigilância em si, com a testagem de animais no rebanho paranaense. Esse processo começou com o teste do gado que transitava pelo Estado, além dos usados em reprodução e/ou eventos. "Recentemente, o Paraná adotou uma postura mais abrangente, em termos de testar rebanhos em brucelose e tuberculose nas propriedades", conta Rodrigues.
Para o presidente da Comissão Técnica de Bovinocultura de Leite da Faep e da Câmara Setorial do Leite e Derivados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Ronei Volpi, o reconhecimento do Paraná como área livre de febre aftosa sem vacinação deu uma prova de que o Estado é capaz de dar respostas efetivas e contínuas no aprimoramento do sistema sanitário. "A biosseguridade é uma bandeira que todos os elos da cadeia produtiva empunham. Precisamos de uma atenção constante à saúde dos nossos rebanhos, incluindo à brucelose e à tuberculose, duas enfermidades que representam degraus que nós precisamos vencer na escalada pela sanidade", aponta. (Foto: Sistema Faep)