A pantomima oficial e a molecagem que alerta...
Renato Sant’Ana
Duas notícias destes dias se conectaram: uma dizia que hackers invadiram o sistema eletrônico de um aeroporto no Rio de Janeiro e exibiram vídeos pornográficos; outra, que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ia reunir embaixadores para mostrar que as eleições serão limpas.
Mas o que é que uma coisa tem a ver com a outra?
Ora, a primeira faz lembrar o óbvio: não existe sistema de computação eletrônica invulnerável. A segunda revela que a cúpula do TSE está obstinada em afirmar o contrário, isto é, que o sistema de votação eletrônica do Brasil é perfeito e, portanto, imune a fraude.
O que houve no Rio de Janeiro (27/05/2022) foi um ataque cibernético ao sistema da empresa que veicula anúncios publicitários nos totens do aeroporto Santos Dumont e a exibição de vídeos de um site pornográfico nos telões. Uma tremenda molecagem. Mas sem maiores consequências.
Talvez o sistema desenvolvido para veicular publicidade num aeroporto não tenha cautelas contra invasões tão drásticas quanto as adotadas por tribunais superiores, que, apesar do suposto rigor, vêm sofrendo, sim, ataques de hackers, inclusive (frise-se!) o próprio TSE!
Pois a segunda notícia dizia que o TSE realizaria em 31/05/2022 o evento "Sessão Informativa para Embaixadas: o sistema eleitoral brasileiro e as Eleições de 2022", prevendo uma série de apresentações sobre as eleições no Brasil e seu sistema eletrônico de votação.
Segundo o TSE, essas apresentações se prestariam ao esclarecimento de dúvidas e questionamentos que surgem com frequência nos contatos do público estrangeiro. Não é lindo?
Diplomatas costumam não se meter em assuntos internos dos países em que atuam. Não dá para esperar, pois, que algum embaixador venha a incomodar os senhores do TSE com perguntas embaraçosas. Mas bem que poderiam fazer as duas questões abaixo anotadas, cujas respostas gostaríamos de ouvir.
Um fato. Já existem urnas eletrônicas de 1ª, 2ª e 3ª gerações, mas o Brasil segue usando um cacareco da 1ª geração, que não permite a impressão do voto. Aliás, entre os países que têm votação eletrônica, só Brasil e os inexpressivos Bangladesh e Butão usam urna eletrônica sem comprovante do voto impresso. Os demais adotam urnas com impressora.
Primeira questão: "Por que os senhores mantêm um equipamento obsoleto e se recusam em atualizar o sistema de votação eletrônica?"
Outro fato. Um relatório da Polícia Federal atestou que, em 2018, um hacker entrou no "servidor" do TSE e por sete meses furungou lá sem ser descoberto nem incomodado. E o próprio TSE reconhece que isso aconteceu!
A outra questão: "Por que é que, contra todas as evidências, os senhores insistem em proclamar a absoluta inviolabilidade do voto eletrônico?"
Que interesses movem a engrenagem? Em 2015 o Congresso Nacional aprovou lei que estabelecia que, no processo de votação eletrônica, a urna devia imprimir o registro de cada voto a ser depositado em local lacrado, sem contato manual do eleitor; Dilma vetou essa regra, alegando (pasmem!) que ia custar muito dinheiro; o Congresso derrubou o veto dela; e o STF, exorbitando suas funções, anulou a decisão dos congressistas.
Curioso... Será mera coincidência que apenas gente identificada com a esquerda se levante contra a auditabilidade da votação eletrônica (que só será possível se houver registro impresso do voto)?
Documentários sobre a África selvagem mostram que as hienas atacam de preferência presas debilitadas por doença ou cansaço. Essa engrenagem para rodar bem precisa da passividade dos que amam a virtude e, igualmente, da obstinação servil dos que se aferram cegamente à ideologia do mecanismo, ou seja, de espíritos nalgum modo debilitados.
Vai um recado para quem não quer figurar num desses dois grupos de entes úteis. Resistir com inteligência! Tomar a decisão de votar e convencer alguém mais a fazê-lo! Uma participação maciça nas eleições exprime vigor do eleitorado e reduz o ímpeto das hienas - se me entendem...
Renato Sant’Ana é advogado e psicólogo - sentinela.rs@outlook.com