O ministro que Cascavel perdeu
Paulo Roberto Hapner
Acordei hoje pensando no ministro que Cascavel perdeu. Recordar é viver e a história de Cascavel precisa ser contada por aqueles que têm queijo na mala, como diria o meu amigo Carlos Ramiro Rebouças.
Ramiro foi uma das maiores expressões culturais de nossa cidade, compositor, músico, poeta e cidadão dotado de uma inteligência extraordinária. Morava com o Bindé, seu cunhado, com quem trocava "figurinhas" de sabedoria, diariamente. Ambos tinham uma pitada de ironia com as mazelas políticas com as quais se vivia e ainda se vive e viverá.
Para mim sempre foi prazeroso conversar e trocar ideias com ambos. Ramiro era meu companheiro de música, ainda no tempo do Endo Pio Montero, célebre músico argentino que nos acompanhava nas noites de seresta no tempo do Restaurante da Leni Dora, então casada com o ilustre advogado intimamente conhecido como "Totonho", amigo do Charles Uscocovich e do Valdir "Porrada".
Era início da Sociedade Rural e dona Suely Festugato patrocinava os jantares no local onde estava sendo construída em homenagem ao seu Celso Garcia Cid, aquele que seria o baluarte dos nossos devotados agropecuaristas.
Convivíamos com pessoas notáveis, de alto coturno e que tinham como objetivo principal melhorar o nível de nossa sociedade, tanto no comércio, quanto na pecuária e na agricultura. O resultado está aí, a olhos vistos. A exposição de Cascavel é referência nacional e a Coopavel realiza uma das feiras mais badaladas do País.
Conto isso para ingressar no assunto que me levou a escrever essas breves linhas. Atualmente, a figura mais comentada na imprensa e nas redes sociais é Luiz Inácio Lula da Silva, que tem uma antiga ligação com Cascavel que talvez seja desconhecida dos nossos leitores.
Era ele apenas uma figura expressiva de seu partido político quando aportou em Cascavel e foi recebido, de passagem, pelo saudoso bacharel Mário Katuo Kato, com quem tinha ligações de amizade, além de políticas.
Era um sábado e Dona Inês, esposa do Mário, preparou um sukiyaki na casa de madeira na Vila Cancelli, onde moravam. Não me recordo muito bem, mas o advogado Antônio Assakura, na época sócio do Aldo Parzianello, também ajudara a preparar do famoso prato japonês.
Acho que foi nos início dos anos 1980 e o Mário convidara o doutor Airton Gerson de Camargo, com quem dividira o escritório, para o almoço. Na época, acho que ele já estava se instalando com escritório trabalhista na Rua São Paulo, em sociedade com a bacharel Maria Almeida, onde também começaram a trabalhar os advogados Ernani Pudell, Aderbal de Mello e Omar Sfair, sobrinho do preparadíssimo jornalista Emir Sfair.
Pois bem, Lula foi visitar Cascavel, logicamente por motivos políticos, porém, foi recebido pelo Mário Katuo Kato e ambos, pelas conversas que mantinham, pareciam ser velhos amigos e logicamente ter convergência de interesses e ideias.
Além disso, ambos tiveram militância política nascida desse convívio.
Mas acredito que, se o Mário Katuo Kato não tivesse morrido acidentalmente num desastre nas ruas de nossa cidade, certamente teria sido ministro do Lula.
Essa observação a faço porque era compartilhada com o Ramiro em nossas rodas de música com o querido e dedicado professor de judô João Cardoso de Oliveira, o João do Porão.
Paulo Roberto Hapner é ex-juiz de Direito em Cascavel e desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do Paraná