O voto e os partidos políticos
J. J. Duran
Urge que empreendamos um esforço gigante pela recuperação da República, restituindo ao voto a dignidade que ele parece ter perdido e dando aos partidos autenticidade, mas exigindo que se identifiquem realmente com os sentimentos e aspirações capazes de fazer com que sejamos ouvidos, compreendidos e refeitos de nossas velhas reclamações por justiça social, único caminho capaz de fazer frente às gravíssimas desigualdades na nossa conformação sociopolítica.
Precisamos de partidos que sejam instrumentos do bem público, com seus representantes fazendo dos discursos um chamado à concórdia e à fraternidade.
Precisamos de homens e mulheres que, ao se lançarem no cenário político, não sejam difusores alegres e irracionais da política do ódio, para que o adversário ocasional seja apenas e tão somente um oponente, não um inimigo.
Precisamos de homens e mulheres que não sejam movidos pela ambição desvairada e sim que representantes autênticos e suficientemente vigorosos para cumprir a tarefa mais alta e importante de um governante democrático: manter unida a sociedade por meio da eliminação de rancores ou passados pouco recomendáveis.
Sou uma parte minúscula dos escombros que restaram da luta fratricida em Buenos Aires, na qual todos fomos culpados pelo retrocesso republicano, pelo horror e pelas mortes.
Não pretendo traçar um quadro comparativo daquela época com a política atual, tampouco mostrar em pinceladas pessimistas o que significa viver dentro de um cenário recheado de ameaças e da sombra sempre tortuosa de um passado que pertence somente à História.
Mas grandes são nossas dificuldades por conta da inquietação social que os discursos com conteúdo fora da realidade produzem tanto na militância governista quanto na oposição.
Temos diminuído nossa capacidade de dialogar para enfrentar e solucionar os problemas comuns a toda sociedade e nossa maior crise da atualidade nem é culpa do atual governo, mas sim de gestores políticos, empresariais e culturais que perderam o sentido de comunidade, imprescindível para que todos possamos trabalhar em torno de objetivos comuns e totalmente patrióticos.
A perplexidade e o desânimo de muitos resultam da falta de um projeto nacional articulado e com o qual as lideranças políticas possam galvanizar os anseios da sociedade como um todo.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná