Moro, o candidato da elite
J. J. Duran
Adornado pelo merecido prestígio dado pela classe dominante, e pela ampla exposição a ele proporcionada pelo que o capitão presidente chama de "imprensa canalha", o ex-juiz Sérgio Moro apareceu, como previsível para os mais desapaixonados, como candidato muito provável à Presidência da República no pleito de outubro vindouro.
O homem que demonizou a política e teatralizou a Justiça surgiu como uma espécie de alfa e ômega da contenda eleitoral como candidato de oposição a Jair Bolsonaro, de quem foi ministro, mas acima de tudo de oposição ao petista Luiz Inácio Lula da Silva, a quem colocou na prisão.
Diferentes razões o levaram a ser opositor indiscutível de ambos os protagonistas que polarizam a disputa até o momento, segundo mostram as pesquisas de opinião.
Os seguidores do bolsonarismo, devidamente doutrinados pela chamada comunicação paralela fortemente atuante nas redes sociais, são opositores ferrenhos do ex-togado a ponto de rotulá-lo de Judas pela forma como saiu do governo.
Já os seguidores do lulismo o execram por razões já de domínio público absoluto, pois foi ele quem colocou o ex-presidente na prisão e lá o manteve por longos 580 dias.
Na visão petista, o ex-juiz implantou no Brail a pedagogia do arbítrio e ofuscou sua conduta com uma atuação jurídica que se sobrepôs até mesmo ao Supremo Tribunal Federal, a corte máxima da Justiça brasileira, prendendo e condenando por caminhos pouco jurídicos.
Seu discurso enigmático, não politizado e soberbo é um mostruário do que será seu temperamento comportamental durante a campanha, caso ainda consiga viabilizar sua candidatura, coisa que a esta altura até Deus duvida.
Como candidato, seria fácil ao maior símbolo do lavajatismo restaurador da verdade e dos valores morais anti-corrupção ter uma adesão da elite econômica e da imprensa suficiente para sustentar um embate contra Bolsonaro e Lula, mas tudo indica que seu projeto político já se tornou totalmente inexequível.
É por essas e outras que no universo mascarado da política aquele que parece nem sempre é, e aquele que é nem sempre parece. (Foto: AGBR)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná