Doença pode reduzir em até 50% a produtividade das lavouras de milho
O Iapar (Instituto Agronômico do Paraná) confirmou a ocorrência da estria bacteriana do milho em lavouras das regiões Norte, Centro-Oeste e Oeste do Estado. Até agora desconhecida no Brasil, a doença é causada pela bactéria Xanthomonas vasicola pv. vasculorum e tem potencial para reduzir à metade o rendimento de grãos em híbridos de milho altamente suscetíveis, segundo o pesquisador Adriano de Paiva Custódio.
A ocorrência foi constatada primeiramente em áreas experimentais do Centro de Pesquisa Agrícola da Copacol, em Cafelândia. "Em 2016, percebemos plantas com lesões diferentes do que estávamos acostumados, mas não era um problema evidente e pensamos se tratar de uma doença secundária", disse o engenheiro-agrônomo Tiago Madalosso.
Nesta safra o problema se apresentou com maior intensidade. "Verificamos áreas com grande pressão da doença, embora ainda sem registrar comprometimento significativo da produtividade", acrescenta Madalosso.
Após a análise de plantas doentes encaminhadas ao Iapar, a presença da nova doença em território paranaense foi confirmada e notificada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
"Em laboratório, fizemos análises fisiológicas, bioquímicas e moleculares, incluindo sequenciamento gênico, para não haver dúvidas sobre a identidade do patógeno", explica o pesquisador do instituto Rui Pereira Leite Júnior, acrescentando que a mera existência de sintomas em plantas não é suficiente para caracterizar um determinado patógeno.
No Oeste, a estria bacteriana do milho já foi registrada em lavouras Cafelândia, Corbélia, Nova Aurora, Palotina, Santa Tereza do Oeste, Toledo e Ubiratã; no Centro-Oeste, em Campo Mourão e Floresta, e no Norte, em Londrina, Rolândia, Sertanópolis e Mandaguari.
REGISTROS
O primeiro registro da estria bacteriana em lavouras de milho ocorreu em 1949, na África do Sul. Após décadas limitada ao continente africano, foi detectada nos Estados Unidos em 2016, onde está disseminada em pelo menos oito estados. "Em regiões do Colorado, Kansas e Nebraska, o nível de incidência passou de 90%, com severidade, chegando a 50% da área foliar", aponta Leite.
Depois foi reportada na Argentina em 2017, de onde chegou ao Brasil, provavelmente pela proximidade. Avaliações preliminares constataram a doença em mais de 30 híbridos cultivados nesta segunda safra, inclusive nos transgênicos. O milho pipoca também é suscetível.
DISSEMINAÇÃO
Leite esclarece que a bactéria pode se propagar nas lavouras por meio da chuva, vento, água de irrigação e equipamentos como tratores, implementos, colheitadeiras e caminhões. Também pode sobreviver de uma safra para outra na palhada e restos de culturas, ou mesmo em outras plantas hospedeiras, invasoras ou cultivadas - espécies como arroz e aveia também são suscetíveis à doença. "Já o potencial de disseminação por sementes ainda não está totalmente esclarecido", ele aponta.
CONTROLE
O uso de sementes idôneas e de cultivares menos suscetíveis, a desinfecção de equipamentos, a adoção da rotação de cultivos e a destruição de restos de cultura são as principais práticas de controle. Sobre o controle químico, Leite aponta que ainda não há produtos testados.
Como ação emergencial, os pesquisadores defendem o investimento em testes nas principais cultivares de milho atualmente disponíveis no mercado, juntamente com a avaliação de produtos químicos registrados para a cultura que podem ter efeito bactericida e bacteriostático.
REUNIÃO TÉCNICA
Iapar, Mapa, Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná) e Copacol convidam lideranças, pesquisadores e técnicos ligados à cadeia produtiva do milho para uma reunião técnica nesta quinta-feira, em Londrina. O objetivo do encontro é nivelar informações, debater implicações da nova doença para a cadeia produtiva e traçar estratégias para prevenção e controle. A participação é gratuita, mas é preciso confirmar presença pelo e-mail eventos@iapar.br até amanhã. (Foto: Iapar)