Tripartidarismo
Juarez Alvarenga
O corpo social é constituído de partes. Aglomeração comum de problemas centralizados numa facção. Desarticulada, a sociedade brasileira aparenta estar condenada ao suicídio partidário. Existe uma descompressão entre os problemas da sociedade e sua falta de representatividade, gerando intocabilidade dos obstáculos que impedem o avanço democrático.
Autenticidade na representatividade é premissa fundamental que falta aos partidos. A camuflagem ideológica é o nosso grande mal. O barroco político traz como consequência a estagnação dos problemas brasileiros. As ambiguidades dos deputados formam um mosaico estático. Tutelar as classes órfãs é um ato de razão e necessidade. O profissionalismo dos representantes do povo obriga a torna-se fisiológico. A desconexão entre os partidos e o povo descaracteriza a estrutura partidária. Não existe rigidez nas pretensões classistas. Há um afrouxamento em busca de soluções evasivas. Flexibilidades excessivas fazem os problemas permanecerem estáticos. Falta infraestrutura partidária.
Por isto sugiro o tripartidarismo: um conservador, querendo conservar os girassóis do capitalismo como a exaustão da produção e, consequentemente, a criação de empregos; outro reformista, querendo mudanças profundas, mas mantendo a espinha dorsal do capitalismo; e um terceiro romântico, fantasmagórico como PCB.
Na adolescência acreditava nesta ficção doutrinária. Hoje, totalmente descrente, acho apenas válida como facção dentro do sistema democrático desde que aceite disputar o poder pelo voto.
Neste panorama estaria todo o universo democrático. Três facetas divergentes e consistentes, que sintetizam todo o pensamento político. Dentro deste universo e da disputa democrática, criaríamos uma sociedade positivista direcionada homogeneamente num sentido liberal focado hegemonicamente em um substrato legitimado pelo povo.
O pluralismo restrito a três caminhos fortalece as ideologias, além de favorecer sua inserção no pragmatismo do poder, impedindo o ressurgimento do fisiologismo partidário e a criação de pseudos lideres desnecessariamente. Neutraliza o caos de coligações e sistematiza o quadro eleitoral mantendo as alternativas do poder e toda representatividade da sociedade.
O individualismo ideológico e o personalismo carismático destroem a estrutura partidária brasileira. Geralmente, nasce um líder e atrás do líder um partido. Sem consistência, sem programa e até sem horizonte. As lógicas fisiológicas destroem a lógica ideológica. Os deputados são homens de conveniências e não seguidores de linhas doutrinaria e partidária. O pluralismo partidário amplo derivado de uma pseudo democracia representativa acarreta anarquismo funcional.
Desprotegida, a sociedade brasileira se torna cética e, consequentemente, despolitizada. O Brasil é um vazio partidário. A ótica sobre os problemas, pelo que se vê, é inteiramente personalista. A visão rígida das facções tão necessária se perde no aglomerado tão flexível do ecletismo unitário.
Discrepância partidária nos limites traçados traz infinitas soluções. E a divergência partidária na pluralidade neutraliza soluções pragmáticas. Discussões prolongadas com forças de argumentações simétricas são soluções reprimidas. As ações são as maiores argumentações.
Partidos equidistantes e equipotentes é a solução para o Brasil. Restringir o universo partidário é estender soluções pragmáticas. Não defendo unidades ideológicas e sim confronto entre forças iguais. Com o país direcionado em três direções é mais fácil achar uma alternativa certeira e convivência saudável com a oposição próxima e atenta.
O tripartidarismo não é uma solução messiânica, mas uma solução inteligente que pode transformar as argumentações em ações e aprimorar o regime democrático.
Juarez Alvarenga é advogado e escritor