O garoto propaganda
J. J. Duran
Jair Bolsonaro é o próprio garoto propaganda do seu ideário político. Desde o início da campanha que o conduziu ao mais alto cargo da República, há quatro anos, soube explorar, em especial pelas redes sociais, as transformações sofridas pelo eleitorado brasileiro nas últimas duas décadas.
Com a ajuda indireta do ex-juiz Sergio Moro e de sua Lava Jato, desestabilizou adversários, estigmatizou pensamentos divergentes do seu e manteve irrepreensível sua liderança junto à parcela do eleitorado insatisfeita com a conduta dos políticos dominantes ao longo dos últimos anos.
Soube como ninguém mobilizar espíritos inquietos o suficiente para a conquista de quatro anos de seu noviciado governamental.
Os incondicionais seguidores do bolsonarismo são politicamente expressão e produto de um metódico processo de subjetivação das ideias, que levou à fragilização das práticas políticas antes convencionais e permitiu ao capitão ser eleito e reconhecido como mandatário brasileiro.
Por quase 30 anos integrante do chamado baixo clero parlamentar, Bolsonaro passou a ser visto por muitos como a encarnação do homem público antipolítica tradicional.
Uma vez no poder, passou a ser um detrator do Estado de Direito e de suas instituições republicanas com um discurso calcado em uma verbalização forte e às vezes violenta, e acabou por fragilizar o sistema que o levou ao poder ao defender um novo regime de exceção, embora focado em investir contra o patrimonialismo da elite do atraso, que se julga dona do poder.
O narcisismo e a irracionalidade tornaram seus fiéis adeptos uma massa convertida em rebanho sociopolítico defensor de seus discursos permeados por vácuos conceituais.
Sua conduta desde o princípio foi de trocar o debate amplo, respeitoso e construtivo pelo poder absolutista dentro de limites nos quais a figura do presidente é apresentada à sociedade com ares napoleônicos.
Isso tudo o transformou em novo expoente de um tempo que ficou no passado e se mostrou politicamente decadente. (Foto: AGBR)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná