Pandemia & pandemônio
Foi para quem não tem a devida intimidade com a língua portuguesa, em especial com o significado das palavras, que se criou o bom e velho dicionário Aurélio e seus sucedâneos. Em qualquer um deles é possível descobrir em segundos, por exemplo, que pandemia é quando um surto de determinada doença ultrapassa fronteiras e se espalha pelo mundo, colocando em xeque inclusive a ciência, e que pandemônio é a associação de pessoas para praticar o mal ou promover desordens e balbúrdias, ou então (e esta definição me parece bem mais apropriada para o caso) uma mistura confusa de pessoas ou coisas, que dificulta a elaboração de um senso comum ao agrado da grande maioria.
Pois esses dois termos nunca estiveram tão em moda quanto nestes tempos de Covid, um mal avassalador que felizmente parece estar próximo da superação, mas que em dois anos nos deixou de herança mais de 6 milhões de mortes no mundo, 657 mil delas só no Brasil.
O negacionismo de uma pequena parcela da população, na maioria dos casos motivado por questões político-eleitorais e não sanitárias, gerou tamanha balbúrdia que as pessoas que não têm o hábito de recorrer a fontes verdadeiramente confiáveis para nutrir seu conhecimento mal conseguem dormir tamanho o pesadelo vivido, seja pela perda de entes queridos, seja pela desconfiança de que as tais vacinas foram criadas para transformar a humanidade em uma grei de obedientes cordeiros trancados no aprisco de meia dúzia de poderosos demoníacos ávidos por dominar o mundo.
Em Cascavel, o debate da hora é uma determinação do Ministério Público para que as escolas da rede municipal de ensino exijam de seus alunos as carteirinhas de vacinação comprovando a imunização contra a Covid, o que levou alguns pais a segurarem os filhos em casa e privá-los do ensino formal do qual a prudência e o mercado de trabalho recomendam não abrir mão nem por reza braba.
Mal lembram ou sabem eles que a carteira de vacinação há muito tempo é um dos documentos exigidos para a matrícula de qualquer criança na rede escolar, bem como que a polêmica hoje existente em relação às vacinas contra a Covid é a repetição do que também ocorreu quando a ciência apartidária desenvolveu os imunizantes contra a poliomielite e a varíola, doenças já dadas como erradicadas no Brasil graças justamente a elas: as vacinas.