Legislando para a torcida
No futebol, o esporte predileto dos brasileiros, quando um jogador faz em campo coisas só para agradar a plateia, ignorando que se trata de uma modalidade coletiva e, portanto, o time não pode prescindir da sua ajuda na marcação, por exemplo, é comum dizer que ele está "jogando para a torcida". Pois essa mesma figura de linguagem podemos aplicar perfeitamente à política para definir coisas como as que vêm acontecendo Paraná afora nos últimos dias.
Depois de se esconderem por longo período do serviço em nome da necessidade de tomar medidas preventivas para combater a maldita Covid-19, não é que muitos vereadores voltaram à ativa com tudo e, em um esforço hercúleo para se fazerem notar depois de um longo esquecimento, decidiram decretar o fim da pandemia!?
Dezenas de câmaras municipais, a começar pela de Curitiba, estão empenhadíssimas em rasgar, como se isso lhes fosse permitido, a lei estadual que tornou obrigatório o uso da máscara e cuja flexibilização (não anulação pura e simples, ao contrário do que tem sido dito ou escrito erroneamente por muitos comentaristas de plantão) está prevista em projeto encaminhado pelo Palácio Iguaçu e cuja aprovação deve ser concluída em questão de horas pela Assembleia Legislativa.
O jogo de cena é tamanho que, na grande maioria dos casos, os autores dessas proposições (alguns deles pré-candidatos a deputado, diga-se de passagem) sequer tomaram o cuidado de, antes de protocolá-las, consultar as secretarias municipais de saúde para extrair o devido raio-X do momento, preferindo embasar suas iniciativas nas notícias da imprensa dando conta que o tal novo coronavírus, ao que parece, finalmente está se dando por vencido, embora ainda esteja a exigir alguns cuidados elementares.
Tal crítica deixará muitos vereadores "dengosos", certamente. E é bom que isso aconteça mesmo, pois em Cascavel, por exemplo, os casos de dengue dobraram de uma semana para cá e não consta que algum "representante do povo" no Legislativo tenha manifestado maiores preocupações com isso.