Quando morre um pai
J. J. Duran
O segredo da vida é perceber que tudo é finito, que tudo é insignificante neste mundo temporal e que amadurecer é se aproximar da morte.
Quando pai se despede da vida, chorosos chegam de todos os cantos para pregar pelo descanso em paz daquele que partiu. E também, claro, para pegar uma fatia do que o velho deixou como herança terrenal.
Seguindo os costumes impostos pela sociedade, o ritual da despedida se converte em um ato delicado, mas confuso aos olhos daqueles que não tiveram passado junto ao que se foi.
Para os forâneos da fraternidade familiar os filhos passam a ideia de que o genitor nem foi necessário, esquecendo até mesmo que muitos deles também já são pais. São, como diz o filósofo, uma espécie de “pobres diabos solitários".
Em muitos lugares e muitos momentos, os órfãos parecem ter a convicção de finalmente começar a viver a liberdade plena por não terem mais que conviver sob o olhar da figura tutelar que os acompanhou desde o nascimento. pois entendem que sempre tiveram a vida controlada e até mutilada pelo pai.
Esquecem de lembrar que também estão a caminho da solidão e da insegurança pela falta daquele bom conselheiro e que um dia suas vidas terão o mesmo desfecho.
Quando morre um pai, morre o narrador do passado daqueles que se foram antes dele e morre também uma tradição. E a casa, então, passa a conviver com fantasmas e lembranças, com as palavras se tornando mudos intentos de refazer o diálogo e o afeto perdidos.
Quando morre um pai, a alma envelhece e adormece junto aos velhos retratos de família, representação legítima de um passado que não voltará jamais.
Para certos filhos parece que a morte do pai significa a conquista definitiva da liberdade, por isso renegam o passado e raramente lembram dele, sem se dar conta que caminham diariamente sobre o "túmulo” da vida e que lá na frente terão o mesmo fim.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná