A transformação digital do campo
Paula Bellizia
O agronegócio é uma força fundamental da economia brasileira. Em 2017, por exemplo, o setor agrícola avançou 13%, contra números não tão significativos da indústria (0%) e serviços (0,3%), de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística). Atualmente, o agronegócio corresponde a cerca de um quarto do PIB nacional.
Apesar da reconhecida liderança mundial, o Brasil pode ser ainda mais competitivo no campo. Durante todo o processo de produção, processamento, distribuição, varejo e exportação, há uma grande necessidade de fechar a lacuna da infraestrutura da indústria agrícola, a fim de melhorar a eficiência, a segurança alimentar, a rastreabilidade e a sustentabilidade, reduzindo ao mesmo tempo o desperdício de alimentos, a perda e os riscos regulatórios.
A tecnologia pode ser uma parceira importante para superar os desafios do campo. Como acontece em todos os outros setores que estão se transformando digitalmente, todo o negócio do campo também será um negócio digital.
A chave para transformar a cadeia de valor do agronegócio está nos dados. Ferramentas e técnicas avançadas de análise, como Inteligência Artificial, aprendizado de máquina e análise dinâmica, estão agora acessíveis a pequenos ou grandes empresários e são capazes de integrar dados de todo o ecossistema, do plantio à mesa do consumidor.
Vejamos alguns exemplos.
O agricultor Sean Stratman cultiva couve, couve-flor, brócolis e abóbora em Carnation, no estado de Washington, Estados Unidos. Com o uso de drones, ele obtém informações quase em tempo real sobre questões como umidade do solo e pragas. O programa FarmBeats da Microsoft envia grandes quantidades de dados de sensores terrestres, tratores e câmeras para um computador na fazenda, permitindo que Stratman tenha rapidamente as informações necessárias para tomar decisões cruciais sobre umidade e temperatura do solo, pesticidas e fertilizantes. Horas e dias andando ou dirigindo no campo para tentar detectar problemas podem chegar ao fim.
Já na Nova Zelândia, Craig Blackburn gerencia sua criação de 2.100 bovinos e 800 ovinos por meio de uma solução de Internet das Coisas (IoT). Desenvolvida na plataforma de nuvem da Microsoft pela SchneiderEletric e pela WaterForce, uma empresa de gerenciamento de água e irrigação da Nova Zelândia, a solução ajuda o produtor rural a economizar tempo, utilizando menos água e eletricidade, reduzindo custos e aumentando os rendimentos.
Fundada pela empreendedora Ros Harvey, a startup australiana Yield usa Inteligência Artificial e Internet das Coisas para ajudar produtores de ostras da Tasmânia a serem eficientes na análise da água e das condições meteorológicas. A Yield usa sensores para controlar em tempo real as áreas de cultivo de ostras e analisa a água que elas bebem. As informações estão baseadas na nuvem, e, por meio de Inteligência Artificial, fazem previsões baseadas que são compartilhadas com produtores e reguladores por meio de painéis gráficos em tempo real. Utilizando análise de dados, a tecnologia da Yield ajuda a reduzir em 30% as interrupções de colheita desnecessárias, economizando cerca de 5,3 milhões de dólares por ano em uma indústria de 24 milhões de dólares dos produtores de ostras da Tasmânia.
Deixo por último um exemplo brasileiro do qual muito me orgulho por representar nosso compromisso de apoiar o empreendedorismo no País. A agritech Tbit usa a visão computacional, um tipo de análise de imagens por meio de Inteligência Artificial para classificar grãos e sementes de soja de maneira automática. Uma das startups mais inovadoras do Brasil, a Tbit é apoiada pelo Fundo BR Startups, uma iniciativa da Microsoft em parceria com a Monsanto e outras grandes empresas, que visa apoiar empreendedores inovadores no País.
Esse é um panorama da transformação digital rural. Os produtores brasileiros têm pela frente uma grande oportunidade de criar um campo mais eficiente, sustentável e inteligente. Vamos semear esse futuro?
Paula Bellizia é CEO da Microsoft Brasil