Povo, política e pobreza
J. J. Duran
Conheci a pobreza quando estudava jornalismo e fiz várias campanhas eleitorais com a UCR (União Cívica Radical) da Argentina. Nossas bandeiras foram e continuam sendo - ainda que hoje um tanto quanto desbotadas - a defesa dos direitos invioláveis da Carta Magna e dos direitos sociais, sobretudo dos mais necessitados.
A pobreza é a maior dentre as injustiças que castigam o ser humano. Na indo América que percorri anos depois, observei que a pobreza aumentava lastimavelmente em cada rincão das jovens repúblicas, levando de roldão as condições de vida dos menos aquinhoados.
A pobreza, disse-me certa vez o saudoso presidente Arturo Illia, "é a contra cara da moeda de ouro, chamada riqueza". Ao ouvir isso, compreendi que não existe o milagre da distribuição daquilo que não se gera. O discurso da repartição e da justiça social, fartamente apregoado pelos empolgados líderes populistas, sempre terminou com o enriquecimento fraudulento das cúpulas mais apátridas do capitalismo.
O melhor método para combater a pobreza, explicava Alcides de Gaspari, fundador da Democracia Cristã na Itália, é incrementar a produção de todos os bens de um país, gerar empregos, pagar salários dignos, respeitar os profissionais e apoiar o capital associado ao campo laboral.
Foi a mensagem de varreu como vento do Sul a milenária Europa. Discutíveis ou não, esses preceitos significaram a chegada do humanismo ao campo das relações entre patrões e empregados. Manuel Valle, ministro socialista francês, expressou que "a riqueza e os empregos se originam da união dos empresários com o povo trabalhador".
Longe do capitalismo "entre amigos" e da força laboral sindicalizada, que só beneficia aos administradores das benesses produzidas, vemos nos países com longínquo e forte histórico de poder sindical os dirigentes estão conduzindo a classe trabalhadora por um caminho equivocado.
Há que se admitir que algo muito grave está acontecendo com o nosso sistema político-democrático. Parece que a maioria dos povos do jovem continente segue submersa na confrontação entre duas correntes políticas gravitantes: o populismo personalista com caudilhos fortes e carismáticos, porém com pouca formação moral, e o liberalismo insípido com suas propostas sempre no campo econômico-financeiro, que só fazem crescer as desigualdades.
É imprescindível que os defensores do liberalismo tupiniquim reconheçam que o poder só se legitima com o êxito econômico de suas políticas. Mas, pelo andar da carruagem, é pequena a esperança de que o ato eleitoral que se aproxima venha mudar o cenário atual.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras