O pesadelo brasileiro
J. J. Duran
Assim como os americanos na era Donald Trump, os brasileiros vivem hoje o seu próprio pesadelo. As bandeiras do ódio e do radicalismo perambulam junto com a virulência das palavras.
Um ódio que vende uma difusa ideologia, que em tempos democráticos prega a ruptura constitucional, a caducidade de todas as instituições senhoras da República e o regresso a um tempo já sepultado pela história.
O energumenismo político se junta ao tempo pandêmico para pôr na ribalta a incapacidade de diálogo por parte de governantes e opositores.
Parlamentar do chamado baixo clero por quase 30 anos, o capitão Bolsonaro se mantém como ardente defensor de um processo revolucionário que teve seus altos e baixos e hoje repousa nas páginas da história. Mas é precido ter em mente que as tentativas de retroceder no tempo histórico jamais tiveram finais felizes.
Deslocado da realidade imposta ao mundo pela pandemia, este gigante chamado Brasil requer um comando sereno, com visão realista do futuro e perspicácia para saber definir as linhas divisórias entre a ciência e o charlatanismo.
A injúria como disciplina, a agressão como método e a mentira como verdade simbolizam o demérito de um linguajar próprio da antipolítica. No mundo todo os arautos do ódio sempre desprezaram o diálogo e invocaram as armas como elemento divisor entre aliados e adversários, em uma conduta sombria que sempre teve como desfecho o suicídio político.
Por fim, vale ressaltar que a retórica de todos os sonhos convertidos em pesadelo reflete o pensamento da parte da sociedade sem expressão própria e que o fracasso democrático é o castigo que a realidade impõe aos eleitores sem visão retrospectiva da figura de um candidato.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná