Um pontapé nos nossos fundilhos
Mesmo diante do enorme apelo popular, com direito a manifestações formais de um rosário interminável de entidades da sociedade civil, o Orçamento da União para 2022, publicado nesta segunda-feira (24) no Diário Oficial da União, manteve em R$ 4,9 bilhões o valor destinado ao Fundo Eleitoral e em R$ 16,5 bilhões o reservado às chamadas emendas de relator, aquelas usadas para que os apoiadores do governante de plantão possam fazer um agrado extra a seus eleitores.
Surpresa? Nenhuma, na medida em que na relação entre Congresso Nacional e Palácio do Planalto se mantém intacto aquele perfil já sobejamente conhecido de um espetáculo horroroso para a ética e a democracia e impiedoso para quem sempre paga a cada vez mais salgada conta do setor público, que é o contribuinte.
Aqueles com espírito desprovido de sensibilidade haverão de dizer "ah, mas poderia ser pior!". E poderia mesmo, na medida em que o valor inicial do tal Fundão era de R$ 5,7 bilhões e depois foi reduzido para R$ 4,9 bilhões pelo próprio Congresso. Sim, mas também poderia ser bem menos pior, pois o valor agora oficializado é mais que o dobro dos cerca de R$ 2 bilhões gastos nas eleições de 2018 e 2020.
Como se vê, o Brasil segue sob a égide de uma política pandêmica que a cada dia adoece mais as finanças públicas em nome da proteção a uma casta cujo discurso em quase nada coincide com a prática, frequentemente marcada por um novo pontapé em nosso traseiro.