A dívida cresce e causa arrepios
Alceu A. Sperança
Com a Advocacia-Geral da União arrepiada frente à decisão da 14ª Vara do Distrito Federal de determinar a criação de Comissão Parlamentar de Inquérito Mista do Congresso Nacional para promover a auditoria da dívida pública, volta à cena a pergunta obrigatória feita sempre que alguém se opõe à abertura de uma CPI: o que pretendem esconder?
Para quem não deve nada, CPIs são o hálito divino da inocência e não o bafo infernal da culpa. Mas como deixar de supor que alguém não deve quando o assunto da CPI é justamente uma dívida - e imensa, estratosférica, monstruosa, ao redor dos 4 trilhões de reais?
O diabo é a dívida. O inferno em vida é dever e não ter como pagar. Ou sobrar pouco para saldar, sacrificando o futuro dos filhos, principalmente diante do arrocho salarial ou do desemprego.
Deixa ver aqui na pilha de contas quanto a família deve: tirando algumas coisinhas, como financiamento, consertos e multas de carro, para o que já há previsão, constato surpreso uma dívida extra de quase cem mil reais (21.866 euros).
Mas essa quantia você também deve, caro leitor. Pelo menos é a cota que nos caberia como cidadãos deste planeta se a dívida mundial, atualmente estimada em 608 trilhões de reais, equivalente a 225% do PIB mundial, fosse repartida entre todos os terráqueos.
Como a da casa já nos basta por obrigação e não vamos pagar a conta do planeta, fica a questão: que futuro o Brasil tem se a dívida nacional continuar aumentando sem controle?
Dado e passado que a dívida é coisa do diabo, no fim de junho a Comissão para o Ano do Laicato lançou, na sede da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), a publicação "Auditoria da Dívida Pública: vamos fazer?" Uma pergunta arrepiante.
Alceu A. Sperança é escritor e jornalista - alceusperanca@ig.com.br