O dilapidar do voto
J. J. Duran
A derrota eleitoral sofrida pelo peronismo kirchnerista nas primárias realizadas na Argentina é um claro recado aos muitos governantes, sonhadores do poder sem fim, de que o voto é um reflexo do que pensa e vive o cidadão comum no decorrer dos mandatos.
Reflexo da dilapidação dos redutos eleitorais que os consagrou, esse cenário serve para demonstrar que os mitos criados pela propaganda oficial não são tão grandes, tampouco maiores que os personagens que os encarna.
Quando a democracia é ofuscada, quando se tenta insensatamente debilitar as instituições senhoras da República, quando se procura reabilitar no pensamento da sociedade um tempo de franca repulsa, se está vendo uma deformada tentativa de implantar o personalismo com sua nuance autoritária.
No apagar das luzes dos mandatos democráticos se produz o encolhimento brusco, quase grotesco, das falsas biografias. A história nos mostra que são muitos os governantes arrogantes que dilapidaram a esperança neles depositada pelo homem da rua.
Nenhum arrogante declamador de tresnoitadas ideologias e denunciante contumaz de inimigos invisíveis, que só habitam a mente dos retrógrados, pode ser proclamado como líder político na verdadeira acepção da palavra.
Líder é aquele político é aquele humano como seus patrícios, que tem a inteligência de ler os signos do presente para visionar o futuro.
Esse líder governante, muito escasso hoje em dia, é aquele que medita e ouve conselhos antes de falar. Não é aquele que fala para depois pensar na estupidez que acabou de dizer.
O tempo do negacionismo ficou para trás, junto ao obscurantismo cultural daqueles que procuraram impor pela força a impiedade ideológica criadora de um sistema opressor e retardatário da evolução social.
Privilegiar o relato mentiroso para desenhar uma nação irreal, fazendo da mentira sua verdade incontestável, é como dilapidar o seu caudal eleitoral em um balcão de boteco.
O período eleitoral, que sempre parece distante, mas nunca está, é o momento oportuno para exercitar o pensamento de todos que almejam dar fim ao pesadelo vivido. Por isso devemos aprender a votar.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná