Horizonte da bovinocultura de corte não é dos melhores
Os altos custos de produção e as dinâmicas de mercado devem continuar, ao longo dos próximos meses, a pressionar as margens dos produtores dedicados à bovinocultura de corte, razão pela qual os pecuaristas precisam implantar mecanismos ainda mais eficientes de gestão.
O tema foi debatido nesta segunda-feira (29), em reunião da Comissão Técnica de Bovinocultura de Corte da Faep, que contou com palestras de Maurício Velloso, presidente da Assocon (Associação Nacional da Pecuária Intensiva), e do especialista em gestão Luciano Araújo, da empresa Terra Desenvolvimento Agropecuário.
"Muito se fala das turbulências que estamos vivendo agora. Vocês vão achar que esse momento foi ‘café pequeno’, coisa de pouca monta. As turbulências serão bem mais radicais. A nossa constante será a inconstância", definiu Velloso.
Ele projetou que o Brasil deve assistir, nos próximos meses, a inversão do ciclo pecuário, com maior oferta de animais de reposição, preços em queda e fêmeas colocadas para abate, e ressaltou que o bovinocultor de corte deve estar de olho no mercado e na gestão de sua propriedade para tomar decisões acertadas.
Na década de 1980, com a arroba negociada a uma média de R$ 407, o produtor obtinha um lucro líquido de R$ 779 por hectare, mas essa relação foi piorando ao longo dos anos. Entre 2016 e 2020, a arroba esteve num patamar médio de R$ 248 e as margens despencaram para R$ 205.
Araújo, por sua vez, ressaltou alguns indicadores de gestão em que o produtor não pode perder o foco. Dentre eles, destacou o ganho médio diário e o desembolso com cabeça. Para que a atividade remunere o produtor, afirmou, é preciso gerar um resultado mensal de cerca de R$ 2 mil por hectare e que esses rendimentos correspondam a uma média de 6,5% do patrimônio da terra e 25% do valor do rebanho. Paralelamente, ele reforçou a importância de o pecuarista fazer a gestão "da fazenda como um todo".
"Mais do que pensar no bem produzido, o pecuarista tem que trabalhar os resultados da fazenda. Se meu negócio é a pecuária, meu principal ativo não é o boi, é a fazenda", afirmou, orientando os bovinocultores para que destine, em média, 23,7% aos insumos do rebanho e 11,3% a pastagens e máquinas. Os demais desembolsos se concentram em mão de obra (7,4%), administração e impostos (4,4%), manutenção da fazenda (5,3%) e outros (0,4%).
PREOCUPAÇÃO
O presidente da Comissão Técnica de Bovinocultura de Corte da Faep, Rodolpho Botelho, ressaltou a preocupação dos produtores paranaenses com os custos de produção e a necessidade de afinar a gestão de suas respectivas propriedades para manter o negócio rentável. "Os custos estão subindo cada vez mais, com alimentação, sal mineral e sementes de pastagens em alta. Temos que trabalhar bem para não termos problemas lá na frente", avaliou.
"Temos um mercado interno gigantesco, mas que está com baixo poder aquisitivo. Temos perspectivas de novos mercados internacionais, mas os embargos recentes da China bagunçam um pouco o mercado. Então, temos que fazer tudo certo da porteira para dentro", acrescentou. (Foto: Guilherme de Souza Dias/Sistema Faep)