Racismo: consciência e ação
Edson Lau
As consequências históricas e sociais de mais de 300 anos escravidão no Brasil são latentes. Temos um racismo à brasileira que lega aos descendentes daqueles que violentamente foram carregados para o outro lado do oceano, uma cidadania de segunda classe.
Além disso, muitas pessoas caem na falácia da democracia racial e no Brasil, lançam mão de velhos argumentos colonialistas que só empurram problemas estruturais de nossa sociedade para baixo do tapete.
Não falar sobre racismo e não fazer nada é também uma escolha. Esta escolha serve apenas para a manutenção do status quo que, como apontam as pesquisas, não são nada favoráveis à população afrodescendente no Brasil: falta educação, saúde e emprego, enquanto sobra fome, violência e vulnerabilidade.
Daí a importância do Dia da Consciência Negra, para fazer com que haja no país uma discussão séria sobre a história dos negros e suas contribuições culturais e econômicas. Para também ressaltar as consequências nefastas do racismo arraigado no seio da sociedade brasileira.
O Dia da Consciência Negra deve servir como um duplo espelho: aos que reproduzem atos e falas racistas, que ao longo dos anos serviu para pisar em nossas memórias, sentimentos e ações; este reflexo é ferramenta para a longa travessia da mudança cultural que precisamos fazer. Por outro lado, há o espelho da representatividade. Para nós negros, isso é fundamental, por isso ficamos orgulhosos quando negros se destacam por sua luta, trabalho e talento. Pois sabemos que os caminhos para termos sucesso, em quaisquer campos da vida social brasileira, são ainda mais espinhosos.
Por fim, é de suma importância pensarmos em ações antirracistas, construir propostas que sobrepujam a negação e a desinformação promovida por atores mais que suspeitos no Brasil de 2021. As políticas públicas não podem negar a manifestada disparidade existente entre brancos e não-brancos no País.
O governo federal abandonou um histórico de avanços, ainda que lentos, que se iniciaram na construção e aprovação da Constituição de 1988. É urgente revisar e consolidar a implementação do Sistema Nacional de Promoção à Igualdade Racial.
Não podemos mais aceitar a violência que anualmente aniquila milhares de jovens negros, as forças policiais devem ser requalificadas e orientadas. Nesse sentido, a bem sucedida experiência do governo de São Paulo de utilizar câmeras portáteis junto aos policiais, deve ser incentivada em todos os estados. A forma como a guerra ao tráfico é feita no Brasil deve ser repensada.
Outro ponto importante é a capacitação de servidores, de todas as áreas, que deve ser um mantra seguido por todos os governos e esferas da administração pública, especialmente dos professores, a fim de que haja plena execução da Lei 10.639/2003. Qualificar e dar condições de permanência na educação pública é um passo decisivo para a emancipação de uma população que, em grande parte, está em vulnerabilidade.
Aqui foram apresentados apenas alguns exemplos, da necessária construção que precisamos fazer para um Brasil mais justo, livre e inclusivo. O 20 de Novembro é fundamental para compreendermos o Brasil e forjar nosso futuro, por isso buscamos direitos e espaços historicamente negados, queremos a cidadania tão prometida, mas negada desde 14 de maio de 1888.
Edson Lau é coordenador nacional da Setorial Luiz Gama do movimento suprapartidário Livres