CPI x bolsonarismo
J. J. Duran
Não há como negar que a crise institucional que há longos anos sacode os alicerces da República, consequência de graves deformações éticas e políticas, contribuiu de forma decisiva para erigir ao poder o bolsonarismo com seu discurso por vezes ameaçador como sustentáculo da gestão.
Sempre que se reduz a área de relações harmoniosas entre governantes e governados se implanta no cenário republicano o autoritarismo funesto das autocracias salvadoras. E no Brasil de hoje o místico pensamento da moralização reformadora deu passagem aos ataques verbais a tudo e a todos que discordam do pensamento oficial, parta ele da situação ou da oposição.
Existe uma verdade nos regimes democráticos que caracteriza e engrandece a classe política: sua capacidade para encontrar a conciliação entre as forças sociopolíticas divergentes.
O Brasil vive um momento que exige essa conciliação e a compreensão, sem acomodações subalternas, de todos aqueles que respeitam as divergências como fato próprio da democracia. Não se pode transformar um movimento político de breve duração como princípio e fim da vida republicana.
Ao chefe da nação, bem como aos seus opositores, cabe o papel da pacificação e não do discurso com incitações desrespeitosas, em manifesta discordância com o sistema democrático. A República dá múltiplas manifestações de inconformismo com as reiteradas ofensas que afrontam os de pensamento divergente.
Enquanto isso, vive a nação brasileira um momento difícil, com elevados índices de desemprego, inflação em alta minando a capacidade dos idosos de exercer seu direito mínimo de comprar remédios, mostrando ao mundo e ao senhor "mercado” a crueldade que o capitalismo apátrida pratica contra a faixa mais humilde da população.
Nem tudo está bem, nem tudo está mal, e não será com uma CPI de duvidosas intenções que ressuscitaremos os mortos pela pandemia e pelo negacionismo estúpido em relação a ela. Não será com esse tipo de CPI que faremos um "mea culpa” por não sabermos escolher nossos políticos. (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná