Futuro incerto
Editorial Folha de S. Paulo
O Brasil é um dos países que menos poupam no mundo, mostra um novo estudo publicado pelo Banco Mundial. Um de cada três brasileiros diz ter feito alguma economia no ano passado, mas somente 11% reforçaram suas reservas pensando no longo prazo, para permitir uma velhice menos insegura.
No mundo desenvolvido, 71% dos adultos guardaram dinheiro com esse objetivo, diz o relatório. Entretanto até nações menos avançadas poupam mais do que o Brasil, cuja taxa aparece abaixo da média dos emergentes, de 16%.
Parte da explicação está na generosidade do sistema previdenciário nacional. Para muitos trabalhadores pobres, o piso equivalente a um salário mínimo representa a garantia de que manterão o padrão de consumo na aposentadoria, ou até mesmo a possibilidade de alcançar renda mais elevada.
Mesmo quem recebe acima disso na ativa consegue preservar parcela significativa dos seus ganhos ao deixar o mercado, o que desestimula a formação de reservas.
Embora a maioria dos brasileiros se comporte de forma imprevidente, a disposição dos que poupam parece ter resistido à crise econômica. Especialistas suspeitam que a recessão pode até ter levado muitos a guardar, com medo do futuro.
É possível que as transformações em curso no emprego tenham efeito semelhante. A maior parte das pessoas que encontraram ocupação nos últimos anos teve que aceitar trabalho sem registro em carteira profissional ou abrir negócio próprio para ganhar a vida.
Sem contar com a proteção garantida pelo sistema oficial de seguridade, muitos poderão se sentir encorajados a separar fatias maiores da sua renda para reduzir riscos durante a velhice.
Nesse sentido, o comportamento presente das famílias brasileiras representa uma oportunidade. O próximo governo terá a obrigação de fazer algo para equilibrar as contas da Previdência Social e poderá encontrar aí parte da solução.
Medidas de estímulo à poupança individual poderiam atenuar os efeitos mais drásticos do ajuste, reduzir pressões sobre os cofres públicos e, ao mesmo tempo, diversificar fontes de financiamento disponíveis para a atividade econômica.
As alíquotas de tributos podem ser manejadas com essa finalidade. Outra hipótese seria aperfeiçoar o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para dar aos trabalhadores maior controle sobre o dinheiro depositado.
Uma discussão séria na campanha eleitoral obrigaria os presidenciáveis a oferecer ideias consistentes sobre o tema. Alguns têm falado em criar um sistema de capitalização, com contas individuais. Mas nenhum deles esclareceu ainda como pretende financiar as aposentadorias do velho regime na transição para o novo modelo.