Deus, o sertão e a noite
Juarez Alvarenga
A solidão encontra seu parceiro na escuridão privilegiada do sertão. Lá não existem convicções ateístas, por quanto o ser humano do sertão é aberto à consagração da vida, pelos modos de sua simplicidade.
É uma sociedade primitiva, limitada pela falta de conhecimento, porém, essencialmente evoluída e possuidora de valores que captam a felicidade no primeiro olhar.
Se os dias são metropolitanos, batizados por ações reais, com olfato de gasolina queimada ao meio dia nos aeroportos a noite se compara com a grandeza do pensamento sertanejo que possuem entrada franca para os espetáculos mirabolantes aos portadores da substanciosa felicidade do tamanho de cada personagem.
No canto do mundo o sertanejo tímido, carrega no peito, a convicção sadia de que Deus democratizou a noite, onde por mais miserável que seja o individuo, tem o ingresso de entrada, na generosa escuridão noturna, pois sua permanência é reajustada como a linha entra desenvolta na cabeça do alfinete proporcionado por dádivas divinas.
A imitação de Deus, pelos sábios metropolitanos arrogantes, cai por terra, porém Deus não compete com o homem, cabe ao individuo apenas sua revelação grandiloquente.
No sertão, às oito horas da noite o sertanejo sai para caçar tatu, enquanto na televisão, vemos cenas destruidoras da criatura humana. É o próprio homem caçando seu semelhante.
Quando, assistimos ao "Jornal nacional" percebemos com clareza o distanciamento do homem sertanejo do metropolitano. A mesma diferença de grandeza entre o homem e Deus.
Deus, sertão e a noite são complementos significativos que totaliza num único ponto a pequenez humana diante da pseudo altura do prepotente, o homem metropolitano sem seu escudo protetor que é Deus de vigia.
Juarez Alvarenga é advogado e escritor