Discurso x realidade
J. J. Duran
Se há alguma coisa cuja falta é menos percebida é a inteligência. Muitos formam sua opinião de maneira espontânea, com base em ínfima qualidade dos elementos que formam o conhecimento real, autêntico e válido sobre o que se está tratando.
Uma pergunta recorrente é por que o capitão presidente insiste com sua retórica agressiva e difusa em todas as manifestações públicas, coisa típica dos tempos míticos, em que o povo assiste ao aparecimento de um novo porta-voz de suas inquietações, embora o bom senso recomende que isso não é cabível à conduta de um chefe de nação.
Bolsonarismo é uma palavra que pode ser traduzida como o velho travestido de novo, pois pouco existe no discurso da direita conservadora que não tenha a marca do autoritarismo, fruto de inúmeras crises.
É indispensável ter em mente que, além de navegar, é necessário governar, e que a pulsão antissistema resulta em uma prática desprovida de conteúdo construtivo do futuro, cujo caminho neste caso específico se mostra ainda distante de estar pavimentado.
Mensagens toscas, bravatas e motociatas triunfantes e ruidosas têm boa aceitação junto aos aliados, mas escasso resultado em uma eleição, quando fome, desemprego e incapacidade de produzir algo que permita sonhar com um futuro melhor são realidades contrapostas ao discurso.
É imprescindível reconhecer que o Brasil vive um momento dos mais complicados, em que a comida que farta na mesa dos endinheirados anda escassa na mesa de uma grande maioria da população.
A penúria e a desolação causadas pela pandemia levaram o País a um cenário que não vai se modificar com discursos fora da realidade. Realidade que é, comprovadamente, bem mais penosa que a que o ministro banqueiro Paulo Guedes procura desenhar ao dizer insistentemente que tudo está "andando bem”, quando na verdade não está. (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/AGBR)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná