A desconstrução da verdade (final)
J. J. Duran
Todos temos alguma parcela de culpa pelo cenário atual, independente de participarmos ou não da política, mas o governo bolsonarista parece seguir o manual de muitas coisas que não devem ser feitas.
Do empoderamento da prepotência política ao desprezo às instituições republicanas e seus ocasionais gestores, fica cheio o breviário da sistêmica evocação aos tempos da quebra institucional. Evocação que, por repetitiva, parece constituir dogma ideológico.
O desenfreado, mas calculado, efeito da constante menção à necessidade do povo armar-se como solução para neutralizar a violência e a negação ao estado crítico gerado pela pandemia acabam minimizando a importância do bom combate desenvolvido por este governo contra a corrupção que dilapidou a República por longo tempo.
A República está doente, absorta e diminuída frente ao reconto de fatos produzidos sem o necessário controle.
A Operação Lava Jato marcou o início da radicalização do debate e a judicialização da política, sendo determinante para a chegada ao poder - via eleições límpidas, diga-se de passagem - do pensamento autoritário e errante de um velho feudalismo patrimonialista.
Quando o governante faz do arbítrio instrumento ameaçador e da força instrumento de seu acionar político, quando tenta esmagar a democracia que permitiu sua eleição, está traindo o juramento de respeito à Constituição.
Quando o governante usa uma magnífica concentração republicana para defender o descumprimento da lei e renegar o sistema eleitoral que o permitiu chegar aonde chegou, fica claro que a verdade está sofrendo severo ataque com vistas à sua desconstrução.
Que não se perturbe o império da lei, que a violência seja varrida, que os rancores e as ambições se apaguem diante da majestade da República. Caso contrário, todos seremos sacrificados por sermos copartícipes da construção deste momento da História.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná