A desconstrução da verdade (IV)
J. J. Duran
A desconstrução da verdade na política brasileira contemporânea começou com a legitimação feita pela grande mídia à Operação Lava Jato e o endeusamento de seu principal mentor, o ex-juiz Sergio Moro.
Esse processo continuou com a atuação pouco afortunada de alguns membros do Supremo Tribunal Federal, que encurtaram perigosamente a distância constitucional entre os três poderes da República.
E chegou ao paroxismo do tempo democrático com as irrupções verbais do capitão presidente e sua retórica impetuosa demais para a liturgia do mais alto cargo da República.
Na verdade, a crise existente não é impulsionada pela ação dramatizante de boa parte da grande mídia, em especial seus analistas políticos, mas pelos personagens centrais do poder republicano, que chegaram a buscar reconstruir um cenário político-institucional impensável numa democracia golpeada pela pandemia e seus reflexos econômicos.
Hoje a sociedade brasileira se encontra uma vez mais num difícil e grave momento da sua conformação sociopolítica, deixando distante o tempo em que se buscava encontrar soluções pacíficas para todos os problemas, conciliando interesses contraditórios e respeitando o pensamento de todas as forças em pugna.
A vocação jurídica da sociedade brasileira sempre teve fundamental importância na vida do sistema governante. Basta olhar desapaixonadamente e com ampla visão retrospectiva para perceber que o maior instrumento usado e marcado nas páginas da História foi a submissão de todos ao império da lei. Essas páginas ressaltam a luta frenética de brasileiros ilustres pela preservação da legalidade e da liberdade.
A democracia brasileira sempre foi defendida e sustentada pelos que, longe de circunstanciais desvarios político-ideológicos, colocaram a serviço da República ideias e palavras que suavizaram a loucura dos impositores da força.
O embate entre a ideologia alucinada e a sensatez coloca na ribalta da opinião pública as inquietações e angústias que sacodem a alma nacional.
Advertir contra a irresponsabilidade, corrigir erros e prevenir contra os abusos dos poderes é instância primordial de todos para defender a República contra eventuais atentados ao seu patrimônio histórico e moral.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná