Retórica e contradições
J. J. Duran
É inegável que o capitão presidente tem uma retórica tosca e que, normalmente, gera desconforto aos ouvidos até de quem está acostumado a ouvi-lo. Foi o caso da expressão "eu sou do Centrão", dita em seu discurso eufórico por ocasião da posse do novo ministro-chefe da Casa Civil, senador Ciro Nogueira,
Tal declaração contrapôs seu próprio discurso quando ainda deputado e no qual, ao ser indagado sobre seu pensamento a respeito desse agrupamento partidário com ações muito efetivas em todas as esferas do poder central, declarou que "o Centrão é o que de pior existe na política brasileira".
Essa contradição remete à lembrança daquela velha máxima de que as inverdades convertidas em verdades pelo poder da oratória e da repetição geram grandes confusões e enganos na mente dos menos esclarecidos.
O bolsonarismo e sua retórica formam parte da segunda onda autocrata que assola o mundo sob a contemplação quase mística de boa parte da população às palavras brotadas da boca dos seus governantes.
O bolsonarismo não busca, ao contrário do que muitos pensam, liquidar a democracia, que lhe permitiu chegar à cuspida do poder constitucional, mas a intensidade verborrágica do capitão é de altíssima voltagem, por isso incita o autoritarismo e o desprezo a determinadas regras constitucionais.
Sua oratória está alicerçada em três fatores: a pulsão antissistema, a pregação constante contra o comunismo - ainda que seja só aquele dos almanaques de borracharia - e a ressurreição da ideologia do regime militar com todo seu passado litúrgico.
O discurso carregado de fortes ameaças é uma fórmula política usada em diferentes épocas e em boa parte do mundo, mas em todos os casos sempre houve um desfecho em comum: a incoerência de princípios.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná