O relato e a realidade
J. J. Duran
A crise confunde aos governantes e políticos, que carecem de sentido analítico para que o relato coincida com a realidade vivida pela sociedade. Isso explica a contínua exaltação de parte da imprensa, que, com escassa noção do que deseja o consumidor da informação, insiste em promover figuras do staff político de forma abjeta.
Essa conduta, via de regra financiada com verbas generosas extraídas dos cofres públicos de forma sorrateira, se baseia em manipulações caricatas que dificilmente irão causar o efeito desejado.
Neste fim do governo tampão de Michel Temer, reprovado pelo vergonhoso índice de 82% dos brasileiros, ganhou cara e jeito de ironia o relato político de todos aqueles que se beneficiaram das mamatas e da conduta reprovável da mais alta corte do Judiciário, ganhou cara e jeito de ironia.
O governo e suas figuras políticas igualmente ilegítimas formam parte da nova e grotesca cultura de boa parte do segmento empresarial e seguem procurando borrar a realidade que conforma o dia-a-dia dos 13 milhões ou mais brasileiros desempregados.
A nota a ser dada a esta intentona desmedida seguramente será zero nas eleições de outubro. Zero, porque dificilmente esses políticos repletos de denúncias e processos judiciais não poderão tirar proveito do sol da praça pública para transmitir mais uma vez aos eleitores sua mensagem futurista, pois são responsáveis diretos pela catástrofe moral que se abateu sobre o País.
O governo e os políticos que ajudaram a legitimar a mentira, a fraude moral e material que sofreu grande parte da classe trabalhadora nesta última década da infâmia manifesta, agonizam solitários ouvindo as vozes que relatam a dura realidade vivida pela grande maioria da população.
Essas vozes brotam principalmente daqueles 13 milhões que, longe das extravagantes conquistas publicitadas na imprensa, saboreiam o cálice amargo da mendicância por um emprego. São essas vozes que já atormentam aqueles que logo terão que trocar a segurança de seus gabinetes pelas ruas para prestar contas aos eleitores.
Alimentar a mentira em uma sociedade faminta de verdades é o mesmo que declamar o desiderato sonhado. Como dizia Bertold Brecht, "quando a hipocrisia começa a ser de muito má qualidade, é hora de começar a gritar a verdade".
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras