O bolsonarismo (final)
J. J. Duran
Jair Bolsonaro sempre declarou, com sua franqueza característica, que não entende de política econômica. De antemão, importa destacar que a política econômica de um país como o Brasil é a mãe de todas as políticas, mas que para cuidar dela existem pessoas especializadas.
Embora prestigiado até agora, no entanto, o ministro Paulo Guedes tem conduzido a questão com desidratada efetividade. Jamais afirmou que tivesse um programa econômico para ser aplicado nestes quatro anos do mandato bolsonarista, mas colocou em prática ações que levaram a um resultado muito reclamado principalmente pela classe trabalhadora.
E o motivo central para essa queixa está na promessa de que a reforma previdenciária permitiria criar mais de 10 milhões de novos empregos, o que não condiz com a realidade, pois o número de desempregados cresceu e passou dos 14 milhões no primeiro trimestre de 2021.
Ao colocar em prática sua estratégia econômica, Guedes aumentou a arrecadação fiscal e isso gerou aumento também da inflação, em um cenário que beneficiou os monopólios empresariais e não favoreceu em nada a classe trabalhadora.
Em desacordo com o projeto bolsonarista apresentado por ocasião da campanha eleitoral, a naturalização deste cenário demonstrou que a atual política econômica está a serviço do capitalismo e não do emprego.
E a isso deve ser somado o tratamento banal dado à pandemia, marcado por uma sucessão de erros que estão sendo reparados de forma tardia e escancararam a já muito antiga e conhecida falta de capacidade do poder público brasileiro em proteger a saúde e a vida da sociedade.
Isso traz à lembrança, inevitavelmente, a profecia de Oswald Spengler de que “a era do individualismo, da democracia periférica, do humanismo autoritário e da liberdade controlada pelo poder está chegando ao fim".
Lembro-me como se fosse hoje que em uma reunião de estudantes no longínquo ano de 1945 declarei que a mídia argentina estava dando mais espaço ao coronel Peron do que ao presidente Peron e que isso estava nos encaminhando para uma ditadura. E assim aconteceu.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná