O bolsonarismo (II)
J. J. Duran
O bolsonarismo representa a nova forma de conservadorismo indo-americano. É ideológico, anticonvencional e anti-institucional e surge no cenário político dentro do contexto chamado "democracias de baixa intensidade".
Jair Bolsonaro é um presidente que produz e representa a imprevisibilidade absoluta, o que nos impõe analisar os efeitos que têm no cotidiano a sua caminhada diária do Palácio Alvorada até o local onde costuma se encontrar com apoiadores e proferir "absurdos lógicos".
O bolsonarismo é um projeto de exercício do poder como fonte distribuidora de políticas, de políticos e das instituições-base da República, por isso simboliza a execução de um projeto político-ideológico pensado para governar dentro das chamadas democracias periféricas, fora do liberalismo conservador tradicional.
Bolsonarismo, peronismo, chavismo e outros ismos indo-americanos são produtos de um momento de execução de políticas populistas e neoconservadoras.
Especificamente no contexto brasileiro, Bolsonaro é o terceiro mandatário representante da direita política-ideológica e dos costumes a chegar ao poder, depois de Jânio Quadros e Fernando Collor, dois precedentes de resultados discutíveis.
Começou sua carreira política nos anos de 1990, com o apoio de militares de baixa patente do Rio de Janeiro e aos quais se agregaram familiares de militares que perderam poder, benesses e prestígio após a redemocratização da República.
O bolsonarismo, segundo analistas isentos e fora dos limites impostos pela convivência na República, nasceu e se vive como em atendimento ao anseio de boa parte da população em relação à crise econômica deixada pelos seus antecessores e como resposta evangelizadora dos costumes um tanto esvaziados pelo avanço dos direitos de gênero na sociedade.
Representa o ressurgimento, no ideário político, do pensamento da direita burguesa, da luta anticorrupção e do autoritarismo populista e personalista.
No poder, representa a escolha do presidencialismo de coalizão, com quadros representativos dos economistas ortodoxos, dos militares de alta patente saídos do Comanto Militar do Leste, dos políticos membros do escuro baixo clero e representantes fisiológicos do parlamentarismo de arranjo, da militância idólatra e ideológica e dos burocratas de plantão adoradores do amém.
A dinâmica governamental é imposta com mãos de ferro pelo próprio Bolsonaro, mesmo que em detrimento da figura presidencial. Porém, de seus planos certamente não fazia parte do surgimento da apocalíptica pandemia. (Este artigo será finalizado no próximo sábado)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná