O bolsonarismo (I)
J. J. Duran
Para identificar as origens e o conteúdo da ideologia bolsonarista, é importante buscar informações nas fontes de pensamento do presidente. Não do militar ou do político, mas do ideólogo irredutível do conservadorismo dos costumes.
Procurar ver como esse homem transformou seu mundo de ideias em fatos para construir sua constelação de poder é buscar no seu passado, porém de forma isenta de intenção definidora, a verdadeira conformação do personagem.
No meu caso específico, vale o pensamento que me acompanha desde meados da década de 1940, quando despontou no cenário político argentino a figura do coronel Juan Domingo Perón e seu populismo sindical.
A identificação dos personagens incidentais na política indo-americana deve ser feita dentro do contexto histórico que vive cada país. E no contexto visível no caso do Brasil, o erro que comete o capitão-presidente ao tentar aplicar diretrizes morais e ideológicas no Brasil de hoje voltando ao passado da República.
A intencionalidade manifestada leva Jair Bolsonaro a tentar refazer, mas com visão distorcida, um acontecimento militar que teve profunda gravitação na vida dos brasileiros. O autoritarismo gestual e discursivo tosco do presidente é típico dos homens formados dentro da rígida disciplina militar.
No entanto, não devemos simplesmente reprovar ou aprovar o personagem, mas destacar que sua ascensão ao poder se deve à massiva votação que o levou a se transformar em uma espécie de mito reformulador do conservadorismo evangelizante. O personagem chegou ao poder com os votos de quase 60 milhões de eleitores identificados com seu pensamento político.
O contexto histórico do Brasil contemporâneo mostra que o discurso de Bolsonaro se alinhou dentro da ideia de um governo conservador nos costumes, liberal na política econômica e com alinhamentos práticos de coalizão cívico-militar.
Com uma oposição fragmentada e contando nas aparências quotidianas com o apoio irrestrito de uma cúpula fardada e a volta oficial do Exército (não das Forças Armadas como um todo) à política brasileira, o bolsonarismo governa com os olhos voltados ao ano vindouro. Um ano eleitoral e que será determinante para a definição das linhas políticas a serem seguidas pelo País talvez pelos próximos 50 anos. (Este artigo continua no próximo sábado).
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná