O campo vira refúgio aos tormentos da vida urbana
A mais nova edição da revista do Sistema Faep traz, como principal destaque, uma reportagem emblemática sobre um fenômeno relacionado a um novo fenômeno migratório que vem ocorrendo nos últimos anos no Paraná. O êxodo rural, que fez com que muitos municípios do Estado perdessem população ao longo das últimas décadas, hoje é substituído pela migração das cidades para o campo, embora em escala muito menor.
Atormentados pela estressante vida urbana, profissionais estão trocando carreiras muito bem sucedidas pela vida singela na roça, que, graças às evoluções tecnológicas dos últimos anos, se tornou uma alternativa economicamente atrativa e viável para quem quer qualidade de vida e ter seu próprio negócio.
“O setor evoluiu muito e, hoje, conceitos como agricultura de precisão e agricultura digital são realidades. Além de contribuir com a economia do País, o homem do campo tem qualidade de vida e excelentes perspectivas de renda. O jovem não precisa mais fazer a vida na cidade grande. Pode ser muito bem-sucedido no campo”, destaca o presidente da entidade, Ágide Meneguette. E não poderia ser de outra forma, pois a renda média do trabalhador rural tem aumentado praticamente o dobro da renda média do trabalhador urbano.
VOLTA ÀS URIGENS
O casal da foto é Débora Carolina Tille, de 34 anos, e Tiago Sorgatto, de 38, um dos exemplos citados na reportagem. Após viverem cinco anos em Quedas do Iguaçu, no Sudoeste do Paraná, os dois foram para Joinville, Santa Catarina, onde ela atuou como psicóloga e ele como servidor concursado do Banco do Brasil.
Insatisfeitos com a rotina que enfrentavam, buscaram orientação profissional e descobriram que a vida no campo ia ao encontro de tudo o que procuravam. Assim, se mudaram para Renascença, na mesma região de Quedas, passaram a morar na zona rural e a cultivar morangos. O negócio deu tão certo que hoje o casal gera emprego a sete mulheres, que trabalham em dias alternados para fazer a colheita.
“Nós percebemos que, nas nossas carreiras anteriores, estávamos dando o nosso melhor, os melhores anos das nossas vidas, por algo que não era nosso. Como a família do Tiago já tinha propriedade rural em Renascença, nós pensamos em empreender em alimentos sustentáveis, produzidos de forma tecnológica e com poucos defensivos. Optamos pelos morangos”, diz Débora."Aqui, temos tudo de que precisamos. Estamos felizes, trabalhando em algo nosso e com impacto social: a oportunidade que damos a outras mulheres e o resgate da agricultura sustentável”, acrescenta.
Outro exemplo do Sudoeste paranaense citado na reportagem é o caso de Ana Paula Rodrigues. Aos 17 anos, ela optou por morar na cidade - em Nova Prata do Iguaçu -, indo trabalhar em um cartório. Cursou administração de empresas e, posteriormente, passou a gerenciar uma empresa financeira em Verê, também no Sudoeste. Em 2018, no entanto, decidiu fazer o caminho de volta e ajudar a família a implantar um alambique, com produção de cachaça artesanal. Hoje com 29 anos, ela está mais do que satisfeita com a consolidação do negócio e com seu novo modelo de vida.
“Quando pequena, meus pais sempre falavam: ‘Estude e vá trabalhar na cidade’. Eram muitas dificuldades. Desde então, muita coisa mudou. O campo traz muitas oportunidades. Eu só me arrependo de não ter voltado antes. É uma oportunidade de negócio excelente, com boa geração de renda. Além do que, estou trabalhando em algo que é nosso”, ressalta Ana Paula. O alambique da família atualmente produz de 20 mil a 25 mil garrafas anuais de cachaça, mais que suficiente para que possa ser considerado um negócio muito bem sucedido.
Outro exemplo desse fenômeno é o casal Hélio Querino Jost e Araci Jost, ele advogado com longa folha de serviços prestados sobretudo no Oeste do Paraná, e ela pedagoga. Depois de morarem longos anos em Cascavel, eles se mudaram para Curitiba, mas não por muito tempo. Na capital deixaram os filhos, já devidamente encaminhados profissionalmente, para curtir os prazeres da vida pacata e em permanente contato com a natureza morando em uma chácara no interior de Planalto. "Estamos aqui por uma questão de qualidade de vida", resume Hélio. (Foto: Sistema Faep)