A sociedade pandêmica
J. J. Duran
O que está acontecendo com as pessoas, com a sociedade? Estamos doentes? Entendo que sim.
Em uma sociedade onde a morte é contada em números, não por nomes, em um tempo de intolerância e desequilíbrio verbal, resta saber se isso é desencadeado pelo estímulo ou pela precariedade de raciocínio que a epidemia apocalíptica nos impôs.
Estão sendo destruídas as mais elementares estruturas que afinaram a convivência harmônica entre pessoas de diferentes pensamentos e posições sociais, e os ismos ideológicos estão entrando em um caminho estreito que conduz à naturalização dos desvarios.
A intemperança verbal está sendo incorporada cada dia mais como algo normal e aceitável.
Mas, ao contrário do que muitos supõem, essa vocalização desruptiva está distante de ser patrimônio exclusivo do velho Trump e do capitão Bolsonaro. Prova disso é que ainda há poucos dias vimos o Papa Francisco fazendo piada um tanto de mau gosto sobre os brasileiros e a cachaça.
A sociedade atual padece de um crescente radicalismo político no mundo todo, fenômeno que tem se reproduzido na imprensa e na Justiça. Tem crescido perigosamente o número de mercenários que se auto rotulam "militantes"e usam todas as ferramentas disponíveis, e particularmente as redes sociais, para agitar as águas da intolerância e fomentar a incompreensão.
A pluralidade desmedida de opiniões assusta especialmente quando adjetiva o poder ou seu temporal representante, pois leva a sociedade a um descrédito generalizado e desvaloriza o diálogo civilizado.
Tudo parece conduzir esta sociedade pandêmica a caminhar por uma senda inclinada e que a cada curva mais nos aproxima do autoritarismo.
Não se pode transformar a mediocridade numa verdade incontestável, pois isso gera o primitivismo da violência moral e física.
Precisamos retomar urgentemente o diálogo não impositivo e dotado da serenidade que exige o momento.
“Alguns estão destinados a raciocinar, outros a não raciocinar e outros ainda a perseguir aos que raciocinam" - Voltaire. (Imagem: Pixabay)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná