Cartão vermelho: nove em cada dez brasileiros reprovam a saúde
Em tempos de Copa do Mundo, o Instituto Datafolha pôs seus pesquisadores nas ruas e descobriu que a saúde brasileira não está jogando um bolão. Bem pelo contrário, pois apenas 10% das pessoas consultadas avaliaram como bom o serviço prestado à população. Mais da metade (55%) avaliaram a saúde no País como ruim ou péssima e outros 34% como regular, conforme reportagem de Natália Cancian na Folha de S. Paulo.
Para o presidente do CFM (Conselho Nacional de Medicina), Carlos Vital, "os números mostram claramente a insatisfação da sociedade brasileira com o atendimento oferecido em saúde no País". "Precisamos de mais sensibilidade política, com financiamento mais adequado, gestão mais eficiente e fiscalização mais efetiva", afirma.
Entre os entrevistados, 97% afirmaram ter buscado acesso ao menos algum serviço do SUS nos últimos dois anos para si ou para a família, principalmente atrás de vacinação e atendimento em postos de saúde. Para os entrevistados, o tempo de espera demorado é o que mais contribui para os problemas no atendimento, seguido da falta de recursos e má gestão.
Durante a semana da pesquisa, 39% dos entrevistados disseram esperar naquele momento por algum atendimento no SUS, como consultas, exames e cirurgias. Esse índice é maior em relação a pesquisas anteriores feitas em 2014 e 2015, quando 30% e 29% aguardavam algum atendimento na rede. O aumento ocorre no mesmo período em que houve redução no número de usuários de planos de saúde no país.
Entre esse grupo, que espera por atendimento, dobrou o percentual de entrevistados que dizem aguardar há mais de seis meses. Em 2014, a pesquisa mostrou que esse índice era de 29%. Em 2018, esse percentual já atinge 45% --sendo que 29% do total aguardavam há mais de um ano.
ACESSO DIFÍCIL
A pesquisa fez ainda uma avaliação do grau de dificuldade de acesso a 14 serviços no SUS. Destes, ao menos 11 foram alvo de críticas. Nesse sentido, o serviço com pior avaliação foi o de consulta com médicos especialistas, avaliado como tendo acesso "muito difícil" e "difícil" por 74% daqueles que buscaram esse tipo de atendimento. Em seguida estão realização de cirurgias (68%), internação em leitos de UTI (64%) e realização de exames de imagem (63%).
Os dados mostram ainda que, superada a dificuldade de acesso, a avaliação do SUS melhora em relação à qualidade dos serviços. Neste caso, 39% avaliam o atendimento como bom ou excelente, 38% como regular e 22% como ruim ou péssimo.
Quando questionados sobre a qualidade de serviços específicos no qual receberam atendimento, a principal crítica foi para o atendimento em pronto-socorro, com 63% das reclamações, seguido de internação em leitos comuns e consultas com médicos em postos de saúde. Já o serviço mais bem avaliado foi o de oferta de vacinas (66% avaliam como bom ou excelente).
EXPECTATIVA
Realizada a poucos meses das eleições, a pesquisa também questionou o que a população espera dos candidatos em relação à área da saúde. Para 26%, políticos devem investir no combate à corrupção na área da saúde. Outros 18% apontam a necessidade de redução no tempo de espera por consultas, exames e cirurgias e 13% a melhora na fiscalização dos serviços da rede pública.
Outras sugestões indicadas foram a construção de mais postos e hospitais e garantia de melhores condições de trabalho e remuneração para médicos e profissionais de saúde. (Foto: Arquivo)