A reconstrução da República
J. J. Duran
A independência de um país exige mais do que a declaração formal separando fronteiras políticas e estabelecendo eleições diplomáticas. Sua conquista acontece dia a dia, na construção da unidade interna e na convivência soberana com as demais nações.
Unidade, a propósito, não se faz apenas falando a mesma língua, com alguns falando de trabalho, progresso e riqueza e outros só de privações, desemprego e injustiças. Nem sob o desfraldar da mesma bandeira, quando uns a fazem tremular nos céus da paz e outros as veem cobrir amarguras e iniquidades. E nem cantando o mesmo hino, com alguns fazendo com alegria e outros apenas balbuciando suas dores.
É realmente extraordinário o esforço feito ao longo do tempo para construir a República, mas os heróis não se imortalizam nas estátuas apenas para a saudade do velho tempo. Esse esforço, que vem de muito longe, cobra o preço do exemplo às gerações que estão na busca do caminho da paz e da verdade.
A crise que assola nosso amado Brasil não encontra precedente na história. A desorganização da economia, os efeitos dramáticos da inflação e o desenvolvimento desigual entre as regiões devem ser motivos de preocupação da Nação como um todo. Onde não há trabalho nem pão na mesa familiar, a paz e a justiça social simplesmente inexistem.
A atual crise, que não é produto da gestão do capitão presidente, mas de um acúmulo de velhas falências estruturais da conformação socioeconômica da República, se agravou sobremaneira com a pandemia. E para superá-la temos todos, não apenas os governantes, a obrigação de anular os esforços brotados das paixões ideológicas e unir forças pela reconstrução republicana. Há que se conter de forma efetiva os interesses sectários e as ambições personalistas.
Que todos que acreditam na revisão do passado unam forças e compreendam que a grandeza da República não será alcançada com intransigências que dificultam a convivência, mas com diálogo respeitoso e afirmativo, único caminho capaz de nos conduzir ao reencontro da fraternidade escurecida.
“Em época de mentira generalizada, dizer a verdade é um ato revolucionário"- George Orwell. (Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/AGBR)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná