Avicultores integrados seguem fechando a conta no vermelho
A avicultura está com exportações aquecidas e preços recordes, mas a realidade dos produtores integrados não é bem essa, pois eles seguem trabalhando com prejuízo, que em algumas regiões do Paraná mais que dobrou em um ano e sete meses.
Mas se o preço que os avicultores recebem da agroindústria por quilo de frango aumentou, então por que o cenário é tão negativo? A resposta está nos custos de produção, que aumentaram bem além dos ganhos do produtor, comendo a renda, conforme atesta o mais recente levantamento de dados da atividade, feito pelo Sistema Faep/Senar-PR.
O que mais pesou para aumentar o rombo nas contas dos avicultores foi a depreciação dos aviários e equipamentos - ou seja, do valor correspondente à perda de vida útil desses bens. Esse valor não é desembolsado diretamente pelo produtor integrado a cada lote, mas deve constituir uma reserva para que ele possa reinvestir na manutenção dos galpões e na aquisição de equipamentos, de acordo com o chamado “pacote tecnológico" exigido pelo padrão das agroindústrias.
Mas os custos operacionais - que correspondem aos custos variáveis, acrescidos da taxa de depreciação - dispararam. Isso porque as matérias-primas dos aviários e equipamentos, como aço, itens da construção civil e componentes eletrônicos, acompanham a flutuação cambial, com o dólar sempre acima da casa dos R$ 5.
Na maioria das regiões, os custos operacionais aumentaram entre 20% e 33%. Ainda assim, o prejuízo dos avicultores chegou a dobrar. Em Toledo, por exemplo, os custos operacionais na produção de frango pesado subiram 28%. Com isso, o saldo negativo dos produtores, que era de R$ 0,11 por quilo de frango em novembro de 2019, saltou para R$ 0,27. O caso mais drástico ocorreu em Cianorte, onde a depreciação fez os custos aumentarem 80%. Os avicultores saíram de um lucro de R$ 0,02 por quilo em novembro de 2019 para um déficit de R$ 0,60.
Na avaliação de Diener Gonçalves de Santana, presidente da Comissão Técnica de Avicultura da Faep, o produtor que não tem financiamento ainda consegue se manter, graças ao capital de giro e ao aumento do número de lotes alojados por ano. Para quem tem dívidas, no entanto, a preocupação é severa. No longo prazo, isso pode impactar no desempenho da avicultura paranaense, como um todo, que hoje é líder nacional na produção de frangos.
O levantamento dos custos de produção foi feito de forma remota - por videoconferência - em integrações de nove localidades: Cascavel, Cambará, Campo Mourão, Campos Gerais, Chopinzinho, Cianorte, Londrina, Paranavaí e Toledo. Por terem sido apurados pela primeira vez em Campo Mourão e em Paranavaí, os resultados dessas localidades ainda serão consolidados, validados e divulgados posteriormente. O Sistema Faep/Senar-PR também faria o levantamento em Dois Vizinhos e em Francisco Beltrão, mas nenhum produtor compareceu às reuniões virtuais para compilação dos dados.
QUEM LUCRA
Com o dólar em alta e o aumento da demanda por proteínas animais no mundo, a avicultura brasileira passa por um bom momento. Com o preço da carne bovina nas alturas, o frango passou a ser um substituto imediato, aquecendo o mercado interno. De novembro de 2019 para cá, o preço do quilo de frango congelado aumentou 62%, segundo o Cepea (Centro de Pesquisas Econômicas Aplicadas). No mercado internacional, a avicultura também teve bom desempenho. Apesar disso, os produtores reclamam que esses ganhos pararam quase que integralmente na agroindústria e não chegaram ao bolso dos avicultores.
“O repasse do que as exportações estão rendendo não está chegando ao avicultor. A indústria está se valendo do fator cambial e da qualidade da produção, mas o produtor, em si, não está sendo beneficiado por esse aumento”, avalia o consultor Gumercindo Fernandes Júnior.
Para Diener Santana, presidente da Comissão Técnica de Avicultura da Faep, o caminho é ampliar as negociações por meio das Comissões para Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração, espaços de diálogo entre produtores e representantes da indústria. Graças aos colegiados, avicultores de diversas regiões vêm conquistando vitórias importantes, como aumento da remuneração e melhorias no processo produtivo. (Foto: Sistema Faep)