Vacina boa é a que vai no braço
Viviane Campos
Enfrenta-se hoje mais um bombardeio de fake news em relação à pandemia da Covid-19: a dúvida sobre a eficácia das vacinas. E chega-se à desfaçatez da escolha ou recusa deste ou daquele imunizante. A atitude sobressalta esses tempos em que as mentiras se espalham nas redes sociais e há sempre crédulos que as repercutem sem qualquer crivo ou checagem de fonte.
O sociólogo Zygmunt Bauman diz que vivemos “tempos líquidos" ao explicar o culto à violência, à instabilidade nas relações e o atual momento histórico. Vou mais além, a filósofa Hannat Arendt tem, entre suas máximas, disse a seguinte frase: “Vivemos tempos sombrios, onde as piores pessoas perderam o medo e as melhores perderam a esperança".
Pode haver uma ligeira dicotomia entre os dois pensamentos, mas nada mais explica a ideia não mais tão implícita de que vivemos o pior dos retrocessos, similar a uma idade média em meio de uma parafernália eletrônica. Chegamos a esse ponto que requer uma profunda reflexão sobre aquilo que queremos desse mundo e do que vamos deixar aos nossos filhos como legado.
Chegamos a essa espécie de diáspora em que vemos diariamente, com algumas pessoas colocando em xeque a eficácia de uma ou outra vacina. AstraZeneca, CoronaVac, Pfizer e agora a Janssen: os quatro tipos de vacinas utilizadas no Brasil são fabricadas usando tecnologias e compostos diferentes, porém todas são seguras e eficazes. Esses imunizantes podem prevenir a forma grave ou a morte pela doença.
Os comentários negativos ou a escolha do imunizante a receber dificulta a imunização da população, contribuindo assim com o agravamento da doença. O que precisamos no momento é a colaboração de todos. É fundamental. nesse contexto, evitar o compartilhamento de informações falsas que colocam em dúvida a eficácia dos imunizantes disponíveis.
O mais importante neste momento é vacinar, não importa a vacina, e completar o esquema vacinal. Por desinformação, entre outros aspectos menores, uma parte dos vacinados que tomou a primeira dose não está indo tomar a segunda. Nas contas do Ministério da Saúde, em 8 de junho nada menos que 4,4 milhões de pessoas não haviam tomado a segunda dose no país.
O Paraná, por exemplo, aplicou 3,3 milhões de primeiras doses (31% da população) e 1,3 milhão de segundas doses (12,2%). É claro que o intervalo entre uma dose e outra varia até 28 dias (CoronaVac), 84 dias (AstraZeneca) e 90 dias (Pfizer), mas estima-se que no estado 80 mil pessoas deixaram de tomar a segunda dose dos imunizantes no prazo recomendado.
As três milhões de doses da Janssen que vão chegar ao Brasil nos próximos dias serão aplicadas em dose única. Por este estoque de validade mais curto entre a produção e a entrega - as doses devem ser aplicadas num prazo de 10 dias - o Ministério da Saúde vai priorizar as capitais e as grandes cidades na distribuição desse imunizante.
Não há dúvida na eficácia de cada vacina contra a Covid. Todas as quatro mencionadas foram aprovadas pela Anvisa - nossa agência nacional de vigilância sanitária, de referência e reconhecimento mundial. Da mesma forma que é muito importante tomar as duas doses para evitar qualquer tipo de complicação maior da doença e contribuir de forma significativa para o controle do contágio do vírus.
Com a população vacinada, a retomada da vida normal e da atividade econômica será mais plena, induzindo a um novo ciclo, onde curar as sequelas será também imperioso. E apesar do ritmo de vacinação não ser ainda o esperado pela expertise que o país tem na área, a maior parte dos estados espera vacinar a população adulta (maiores de 18 anos) até meados ou final de setembro.
No Paraná essa previsão não é diferente. O estado ultrapassou a marca de 4,5 milhões de doses aplicadas, de acordo com os dados atualizados dos municípios. Das cerca 4,9 milhões de pessoas que foram incluídas nos grupos prioritários, 3,3 milhões já receberam a primeira dose do imunizante, 66,7% do público previsto no Plano Estadual de Vacinação. Destas, 38,5% completaram o esquema vacinal.
Apesar dos percalços, estamos no caminho certo. Não escolha a “marca" da vacina, vacine-se. Busque pela segunda dose para o bem da sua saúde e da saúde de todos. A melhor vacina contra a Covid é a que vai no seu braço!
Viviane Campos é Assistente Social e especialista em Política Social e Serviço Social na Sociedade Contemporânea