Momento delicado
Miroslau Bailak
Estamos, mais uma vez, em um momento muito delicado provocado pelo número, novamente exagerado, de 6.600 novos casos diários que ocorreram no Paraná no final do mês de maio e que agora estão refletindo em nossos serviços de saúde. Chegamos neste fim de semana a uma lotação completa em nossos leitos hospitalares, o que correu em todo o oeste e sudoeste do Paraná. Cascavel não ficou de fora e nossos hospitais e unidades de pronto atendimento também sofreram esta pressão. Pessoas contaminadas em grande número superlotaram principalmente as nossas UPAs o que nos obrigou a referenciar novamente uma UPA exclusiva para atendimento Covid.
Abrimos todas as nossas unidades de saúde para atendimento dos casos sintomáticos de gripe e atendimento pela manhã, já que precisamos manter também o atendimento às outras patologias à tarde. A UPA Veneza, por ser de maior porte, desta vez se tornou a referência e, apesar de toda a preparação, teve uma grande procura levando a uma sobrecarga importante.
Na noite de ontem estávamos com 20 pacientes em ventilação mecânica, sendo que a UPA não é destinada a este tipo de atendimento. Mas, como todas as UTIs estão lotadas e com uma fila de espera que ultrapassa a 50 pessoas, somos obrigados a dar este tipo de atenção para que as pessoas não morram sem assistência. A lotação das UPAs foi agravada pelo fechamento dos ambulatórios dos hospitais privados que, ao não atenderem seu publico também nos casos leves, fizeram estas pessoas procurarem as nossas UPAs.
Solicitamos a todos que tenham sintomas respiratórios leves que se dirijam neste momento a unidade de saúde mais próxima de sua casa onde serão atendidos no período das 08 às 12 horas. Não se dirijam às UPAs já que estas devem ser procuradas apenas nos casos mais graves e, preferencialmente, levados pelo Samu.
Nossos servidores de toda a saúde estão sobrecarregados, é verdade, e estamos fazendo todos os esforços para conseguir mais pessoal. Mas, uma lei federal, a 173, nos impede de contratar novos servidores efetivos e os testes seletivos não encontram interessados.
Pedimos à população que restrinja seus deslocamentos e que evitem aglomerações, mas mesmo apesar destes pedidos observamos aglomerações absurdas entre os jovens, principalmente em casas de diversão, bares e até em vias publicas com aglomerações que seguramente mantêm os altos níveis de contaminação. Não queremos o"fecha tudo”, altamente deletério e prejudicial. Mas também já não há como suportar as atitudes desrespeitosas de uma grande parcela da população em relação a gravidade desta pandemia. Precisamos de todos. Dos trabalhadores da saúde, dos gestores, mas principalmente da colaboração da nossa população para vencermos esta guerra.
Os recursos são finitos e os trabalhadores cada vez mais cansados e menos disponíveis, o que pode gerar ainda um grande número de óbitos muito superior aos 730 já ocorridos apenas aqui em Cascavel. Nos ajudem, se ajudem, vamos juntos vencer de uma vez por todas esta pandemia. Tenham todos uma boa, mas cuidadosa semana.
Miroslau Bailak é médico e secretário municipal de Saúde em Cascavel